Ao mesmo tempo em que constatamos, com tristeza, a indigência cultural em que se transformou a música consumida pelas crianças nos dias de hoje, é um alívio que o cinema tenha trilhado caminho distinto. Gerações que cresceram assistindo, na tela grande, aos desenhos clássicos de Walt Disney, hoje levam sem medo seus filhos para assistir às animações modernas que estúdios como a Dreamworks, a Fox e a própria Disney lançam periodicamente. E tampouco se envergonham de irem sozinhos, já que ver um desenho animado como A Era do Gelo 2, mais do que um programa adulto, é um oásis de inteligência em meio à mediocridade dos roteiros despejados por Hollywood em escala industrial.
Justamente num ano em que o Oscar é vencido por um filme (Crash) em que uma boa idéia é desperdiçada num emaranhado de clichês, deve-se dar ainda mais valor a produções de massa como A Era do Gelo 2, que não menosprezam o QI de multidões de todas as idades que pagam para assisti-lo. É que chavões como “o cinema é a maior diversão” e “filme-pipoca” muitas vezes são utilizados para justificar a existência de certas excrescências, como se um filme imbecil não estragasse a diversão e a pipoca de quem vai ao cinema.
Efeitos especiais também compõem outro recurso bastante utilizado para disfarçar a fraqueza dos roteiros, muitas vezes sem sucesso. Certamente não é o caso aqui, mesmo sendo as animações modernas o que há de mais impressionante em termos de efeitos especiais. A grande diferença é que, se na maioria dos filmes hollywoodianos, os efeitos só servem para afastar ainda mais o mundo real do que se vê na tela, nos desenhos acontece justamente o contrário. O que torna A Era do Gelo 2 (dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha) um filme envolvente e comovente é justamente a humanização dos personagens. Não importa que sejam eles mamutes, gambás, tigres ou bicho-preguiça. Na hora em que seus olhares aparecem em close, enxergamos ali muito mais do que uma criação de computador. Enxergamos a nós mesmos, com nossos dilemas morais, usando nosso instinto de sobrevivência.
Se abre perdoáveis brechas para a avalanche de merchandising que vem a reboque na comercialização de bonequinhos, video-games, etc, o filme também passa uma série de mensagens edificantes que podem fazer bem ao processo de aprendizado da criançada. E por mais que nesta seqüência os vilões (dois peixões monstruosos) sejam derrotados de forma chocha, sem o clímax merecido, a diversão para pais e filhos está mais do que garantida pelo humor pastelão do esquilinho Scrat e a acidez de Sid, o bicho-preguiça.
# A ERA DO GELO 2 (ICE AGE: THE MELTDOWN)
EUA, 2006
Direção: CARLOS SALDANHA
Roteiro: PETER GAULKE E GARY SWALLOW
Produção: LORY FORTE
Música: JOHN POWELL
Elenco: Vozes de RAY ROMANO, JOHN LEGUIZAMO, DENIS LEARY, QUEEN LATIFAH na versão legendada, e de MÁRCIO GARCIA, DIOGO VILELA, TADEU MELLO, CLÁUDIA JIMENEZ na versão dublada.
Duração: 90 min.
site: www.aeradogelo2.com.br
