Críticas


ALICE GUY-BLACHÉ:

A HISTÓRIA NÃO CONTADA DA PRIMEIRA CINEASTA DO MUNDO

De: PAMELA B. GREEN
Com: JODIE FOSTER, GEENA DAVIS
06.11.2020
Por Maria Caú
A pandemia abre espaço para que uma joia perdida chegue às salas

A trajetória de Alice Guy-Blaché, cineasta francesa que realizou aquele que é considerado um dos primeiros filmes narrativos, dirigiu centenas de outras obras repletas de inovações de linguagem e chegou a comandar um estúdio, impressiona tanto quanto o seu completo e reiterado apagamento da história do cinema. Pois o documentário de Pamela B. Green é tanto sobre os feitos geniais de Guy-Blaché quanto sobre o processo que a legou ao completo esquecimento.

A narrativa, dinâmica e cheia de entrevistas com cineastas, atores e pesquisadores, é narrada por Jodie Foster e apresenta o resultado de um longuíssimo trabalho de pesquisa, com o resgate de uma enorme gama de documentos, imagens e entrevistas raras com a própria cineasta, que revelam sua personalidade bastante magnética e diversas curiosidades. Be natural (o título original, em português Seja natural), por exemplo, era um aviso gigantesco que Guy-Blaché mandara pintar no seu estúdio para orientar o elenco. De fato, Green constrói uma verdadeira arqueologia desses anos, questionando a cada passo as razões que empurraram essa brilhante mulher para fora dos livros sobre o primeiro cinema. Por esse motivo, trata-se de um filme necessário para professores e pesquisadores, que serviria muito bem para corrigir erros tão comuns dentro das salas de aula de História do Cinema.

Os dois parágrafos escritos acima foram publicados neste site, apressadamente, quando da correria da cobertura do Festival do Rio de 2018, portanto cerca de dois anos atrás. Cabe pensar como essa estranha época de retorno ainda tímido aos cinemas acabou permitindo que um filme como este, que permaneceu por todo este tempo sem lugar nas salas, estreasse (e para que público e em que condições). Estariam os distribuidores apenas aproveitando para lançar para as salas inevitavelmente vazias títulos que antes não teriam lugar, ou capitalizando em cima daquele que talvez seja o único público capaz de enfrentar toda essa aura de insegurança para ir ao cinema (o público cinéfilo)? Talvez a pandemia nos permita caminhar para um futuro em que a programação das salas de cinema seja pensada de outra forma. Cabe sonhar.

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Outros comentários
    5123
  • Luiza Alvim
    11.11.2020 às 15:29

    Que lindo final de texto! Sim, vamos sonhar, embora seja tão difícil nessas condições. Vi o filme semana passada graças ao lançamento no cinema na pandemia (não consegui assistir naquela loucura do Festival do Rio 2018). Sim, eu sou cinéfila e faço questão de ver os filmes em salas, por mais que haja uma série de dificuldades, já começando pelo longo trajeto entre casa e cinema. Nesse primeiro mês de exibição durante a pandemia, vi filmes em sessões com poucas pessoas, mas tive a felicidade de rever amigos e caras conhecidas em algumas delas. Ainda está longe do verdadeiro sentido do cinema, mas já deu um gostinho de normalidade, apesar do medo, do desconforto das máscaras e de todo um protocolo de segurança que sigo para sair e voltar para casa. Procurei o seu texto antigo na semana passada e agora reli nessa revisão pós-pandemia. Obrigada!
    • 5124
    • Maria Caú
      12.11.2020 às 21:19

      Obrigada pelo comentário, Luiza. :)