Críticas


PARTIDA

De: CACO CIOCLER
Com: GEORGETTE FADEL, LÉO STEINBRUCH, PAULA CESARI
13.02.2021
Por Marcelo Janot
Documentário de formato instigante ajuda a entender país polarizado

Está na grade do Canal Brasil e nos canais de streaming o ótimo “Partida”, o documentário com elementos ficcionais dirigido por Caco Ciocler, rodado em dezembro de 2018, logo após o anúncio da vitória de Jair Bolsonaro. A protagonista é a atriz/personagem de esquerda Georgette Fadel e seu antagonista é o ator/personagem de direita Léo Steinbruch. Antes que se caia no erro reducionista de resumir esquerda e direita a petistas e bolsonaristas, ela se define como uma comunista até certo ponto crítica ao governo “social democrata” do PT, e ele não rumina como o gado fiel do atual mandatário. Caco Ciocler e o resto da equipe de filmagem pretendem documentar a ida do grupo de ônibus até o Uruguai, para desejar Feliz Ano Novo ao ex-presidente José Mujica.

Georgette diz que quer se candidatar à presidência em 2022, e tirando o aspecto de fantasia, o filme ajuda a entender o abismo político em que nos encontramos. Mesmo fugindo dos estereótipos, Georgette se assemelha à certa esquerda presa a ideais utópicos e desconectada da realidade, assim como Léo, que se está distante do perfil tiozão do zap replicador de fake news, escorrega no discurso pronto de que o PT é o culpado de todos os males.

Em cena e por mensagens recuperadas de secretária eletrônica, o diretor Caco Ciocler estimula sua trupe a deixar as fronteiras da encenação e do real se confundirem, atingindo o objetivo de forma instigante. Entre uma e outra discussão entre Georgette e Léo, permite que o espectador pense o Brasil de hoje através de elementos do trajeto. O ônibus faz uma parada no acampamento Lula Livre em frente à PF de Curitiba, onde o ex-presidente se encontrava preso, e que mais parece um parque temático. Lá, um debochado Léo compra uma caneca com a imagem do líder petista. Em outro momento, Georgette se mostra disposta a ouvir o jovem motorista do ônibus, que passa toda a viagem calado. Ele revela que, cansado da corrupção dos governos petistas, votou em Bolsonaro. Ela o escuta mas o papo é ligeiro, desnudando algo que soa ainda mais claro hoje, em 2021: enquanto um genocida deita e rola no poder, a esquerda segue fragmentada e desconectada do pensamento popular, preferindo seguir apontando o dedo para os alvos fáceis de sempre do que buscar uma solução viável para reconquistar o eleitorado.

O alívio vem nas bonitas palavras de Mujica, que deveriam servir de norte para quem, tanto à esquerda como à direita civilizada, sonha viver num país melhor.

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