Os incômodos primeiros 12 minutos do raro documentário “Meeting the Man: James Baldwin in Paris” (1970), em cartaz no MUBI, atestam sua importância histórica. O diretor britânico Terence Dixon utiliza metade do curta-metragem para registrar a tensa dificuldade de entendimento entre ele e o seu protagonista, o escritor norte-americano James Baldwin, que se mudou para Paris em 1948, aos 24 anos, incomodado com o preconceito e a segregação racial de que era testemunha (e vítima) nos Estados Unidos.
A negociação entre diretor e personagem ganha força na narrativa sobretudo porque Terence é branco, e sua postura arrogante e insensível acaba por ilustrar, resumir e justificar o discurso que marcou o ativismo de Baldwin ao longo da vida. Na posterior montagem, em um lance de postura ética condenável, o diretor acrescentou uma narração em off em que tenta se justificar e se colocar como vítima, e ainda debocha do escritor ao introduzir, da seguinte forma, o trecho em que Baldwin se reúne no estúdio de um pintor amigo para conversar com estudantes negros americanos: “Enquanto a conversa avançava, o passado de Baldwin como um jovem pregador batista no Harlem ficou muito aparente”, diz a narração.
Embora ainda sobre espaço para que Baldwin possa expressar suas ideias sobre racismo com a mesma contundência que vimos no premiado documentário “Eu não sou seu negro” (disponível na Globoplay e no Now), a magia de “Meeting the Man” e o que o torna tão singular é justamente a oportunidade de vermos explicitada na forma do filme a potência do pensamento e da luta de Baldwin.
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Ainda sobre o tema racismo, mas com um abordagem mais convencional, é possível ver no canal Curta!On (o portal de documentários do Curta!, disponível no Now) o doc para a TV “Ku Klux Klan – Uma História Americana”. Dividido em dois episódios de uma hora cada, oferece um panorama bastante didático sobre a organização racista, contando em que conexto ela surge em meados do século 19, após a Guerra da Secessão, e como o sucesso do filme “O Nascimento de Uma Nação” (1915), de David W. Griffith, a tira do ostracismo e lhe garante milhões de novos adeptos. É uma história de intolerância, violência e ignorância que sempre buscou atrair incautos através de discurso patriótico e religioso e alimentado pelo ódio, algo que, como a política do século 21 vem mostrando, ainda funciona. O diretor francês David Korn-Brzoza intercala imagens de arquivo com entrevistas de estudiosos e especialistas, além de um ex-membro da KKK arrependido.