Críticas


À PROVA DE MORTE

De: QUENTIN TARANTINO
Com: KURT RUSSEL, ZOE BELL, ROSARIO DAWSON
17.07.2010
Por Marcelo Janot
PASTICHE DE SI MESMO

O espectador desavisado vai estranhar os riscos e imperfeições na imagem, as cores esmaecidas e os saltos abruptos na montagem como se pedaços do filme tivessem sido cortados da cópia em exibição. Tarantino quer levar a platéia a experimentar a sensação de estar numa Grindhouse, nome que se dava aos cinemas americanos que, na década de 70, faziam sessões duplas de filmes trash de gêneros distintos. Grindhouse foi, portanto, o nome escolhido para o projeto que reuniu Tarantino e Robert Rodriguez: uma sessão dupla formada pelos filmes Planeta Terror, de Rodriguez, e À Prova de Morte, de Tarantino.



Lançado nesse formato experimental, de sessão dupla, nos confortáveis multiplexes norte-americanos, Grindhouse fracassou. Entende-se que nos anos 70 o público pagasse o ingresso barato dos cinemas poeira para se divertir com filmes ruins em cópias precárias, desde que mostrassem mulheres gostosas e alguma sacanagem, terror barato com tripas à exaustão e cenas de corridas de carro (alguns até acabavam se tornando cult). Mas por que ele iria se submeter a tudo isso nos dias de hoje? Só por causa da grife Tarantino-Rodriguez?



A força mobilizadora do diretor de Pulp Fiction e Kill Bill acabou se mostrando insuficiente para seduzir os fãs, e por um motivo que parece simples: o filme é ruim. Que proveito se pode tirar da audição de um LP arranhado se as músicas não são boas? Só o fetiche de voltar aos tempos do vinil? Tarantino precisaria oferecer algo mais do que a mera experiência sensorial de se ver um filme artificialmente defeituoso.



Ele construiu uma carreira de êxito artístico e comercial utilizando de forma inteligente e inovadora um arsenal de referências à cultura pop e a um certo tipo de cinema que raramente era visto como obra de arte. Ou seja, a essência de À Prova de Morte já estava presente em seus filmes anteriores. A novidade, aqui, praticamente se resumia à forma de apresentá-lo. E nem isso o espectador brasileiro terá direito, já que o filme está sendo exibido sozinho (Planeta Terror estreou em 2007).



O que resta são as auto-referências, como o fetiche por imagens de pés femininos e as longas cenas de diálogos aparentemente banais, que funcionam em seus outros filmes, mas dessa vez, salvo um ou outro lampejo, são utilizadas de forma preguiçosa. Tarantino declarou que fez o filme para provar a si mesmo que ele era capaz de dirigir cenas de perseguições de carro tão envolventes quanto às dos filmes australianos dos anos 70 e 80. A julgar pelos 20 minutos finais do filme, conseguiu. Mas sua extravagância narcísica caberia melhor num curta-metragem do que nessa cara e tediosa brincadeira.



# À PROVA DE MORTE (DEATH PROOF)

EUA, 2007

Direção: QUENTIN TARANTINO

Roteiro: QUENTIN TARANTINO

Fotografia: QUENTIN TARANTINO

Edição: SALLY MENKE

Elenco: KURT RUSSEL, ZOE BELL, ROSARIO DAWSON, VANESSA FERLITO, SYDNEY TAMIIA POITIER, TRACIE THOMS, ROSE MCGOWAN, JORDAN LADD, MARY ELIZABETH WINSTEAD, QUENTIN TARANTINO

Duração: 114 min.

site: www.deathproofcar.com/

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário