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BRAVURA INDÔMITA (visto em Berlim)

10.02.2011
Por Nelson Hoineff
BRAVOS INDÔMITOS

(de Berlim)



Se existe a possibilidade de consenso crítico em alguma coisa, ele está no western. Acredito que se o cinema tivesse que ser definido através de um único gênero, o western seria o escolhido. Sei que alguém já disse isso, mas digo de novo. O western permeia a própria origem do cinema e é inerente a ele, irredutível a qualquer outra forma de expressão audiovisual.



Grandes autores cinematográficos se notabilizaram pelo western. Podem ter dirigido outro tipo de filmes, mas estão umbilicalmente ligados a ele. Falo de gente como John Ford, que criou o mito John Wayne, e Henry Hathaway, que dirigiu o primeiro Bravura Indômita, há 42 anos.



Joel e Ethan Coen são cineastas diferentes. A invenção é o seu gênero. Os irmãos Coen são responsáveis por muito do que de mais original o cinema foi capaz de produzir nos últimos 25 anos. Nesse período, fizeram cerca de 20 filmes, metade dos quais absolutamente revolucionários. Refiro-me a títulos como Arizona Nunca Mais, Barton Fink, Na Roda da Fortuna, Fargo, O Grande Lebowsky, Queime Depois de Ler, Um Homem Sério e por aí afora. A que gênero tais filmes pertencem? Ao gênero Irmãos Coen.



É portanto um ato de bravura indômita refilmar o clássico de Hathaway e mergulhar, pela primeira vez ao longo de uma carreira impecável, no cinema de gênero. E aí acontece, o improvável, o extraordinário. Os irmãos Coen não transformam True Grit (título original) num filme dos irmãos Coen. Eles se rendem ao gênero com humildade só superada pela maestria de sempre. Rendem-se ao que pode ser maior do que os irmãos Coen: um gênero capaz de definir o cinema. Fazem um western do qual Hathaway ou Ford se orgulhariam.



E levam todos nessa idéia. Seria impossível pensar em Bravura Indômita sem John Wayne, mas Jeff Bridges recria o personagem, sem buscar Wayne mas mergulhado no velho oeste. Bridges não tem o estilo caricatural de Wayne, mas compõe um Cogburn menos glamurizado, porém mais natural. Hailee Steinfeld, que nasceu 29 anos depois que Kim Darby viveu o seu papel, é um fenômeno de entendimento do personagem.



Alguns atores tornam-se tão fortes que já não cabem mais nos personagens. Com os diretores acontece a mesma coisa, mas as pessoas se vão e o cinema é imortal. Cinco anos depois de Ang Lee dignificar o gênero com o inusitado O Segredo de Brokeback Mountain, os Coen lembram por que o western não irá morrer jamais.

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