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PIOR DOS PECADOS, O

08.11.2011
Por Luiz Fernando Gallego
MILAGRE OU ACASO

O Pior dos Pecados é uma boa estréia de Rowan Joffé na direção de filmes para salas de cinema. Até agora, o filho do também diretor Roland Joffé (A Missão e Gritos do Silêncio) só havia filmado para a TV e assinado roteiros, como o de Um Homem Misterioso (The American, com George Clooney, 2010).



No elenco contou com os mais conhecidos e sempre ótimos Helen Mirren e John Hurt, mas o foco maior está nos mais jovens: em Andrea Riseborough (mesmo que seja um tanto ingrata a construção de sua personagem) e – especialmente – em Sam Riley (que já havia chamado a atenção em Controle – A História de Ian Curtis, 2007, e agora está filmando On the Road sob a batuta de Walter Salles). Mas Helen Mirren é a presença marcante de sempre: o papel de ´Ida´ (Helen Mirren) funciona como Nêmesis do jovem gangster Pinkie Brown vivido por Riley.



O roteiro do mesmo Joffé fez uma transposição para o ano de 1964 de um romance de Graham Greene lançado em 1938: Brighton Rock (título original do filme), traduzido por aqui como O Condenado, mas que não deve ser confundido com o filme de Carol Reed Odd Man Out (1947) que no Brasil recebeu o mesmo título nacional do livro de Greene. Por sua vez, este romance já havia sido levado, às telas no mesmo ano de ’47 (e aqui se chamou Rincão de Tromentas) com roteiro do próprio romancista e desempenho bastante elogiado do então jovem (e na época ainda não “Sir”) Richard Attenborough.



Rowan Joffé investe bastante em seu novo papel de diretor, caprichando na decupagem, enquadramentos, planos-sequência e montagem - com ajuda da edição caprichada de Joe Walker – mesmo que abuse da música na trilha sonora e que o roteiro permita uma cena algo supérflua com John Hurt e Mirren, logo após o clímax do enredo e antes do epílogo.



Mas a abertura em clima de filme noir dos anos ’40 e as cenas seguintes são primorosas, sendo que os pontos menos satisfatórios apontados não reduzem o interesse do espectador que não conheça o enredo do livro. Aliás, é desses filmes que dão vontade de conhecer a fonte original literária.



Como em quase todas as obras de Graham Greene, temas “católicos” fornecem os conflitos mais além das tensões óbvias entre os personagens: pecado e graça, culpa e reparação, vingança e perdão, inferno ou céu, e principalmente nosso desamparo que pode ser redimido por um milagre ou por mero acaso favorável e ilusório. Esta última discussão vem de uma idéia do próprio Greene para o desfecho (último minuto) do filme de ’47 que o novo roteiro aproveita. No que fez muito bem. Rowan Joffé é um nome a ser acompanhado.

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