O diretor Benedek Fliegauf assina uma ficção diretamente escorada em fatos da realidade – mais exatamente, nos assassinatos de ciganos ocorridos no interior da Hungria em 2008 e 2009. Mas Apenas o Vento não impressiona apenas pelo caráter de denúncia. Cabe aplaudir o valor artístico do filme, contemplado com o Grande Prêmio do Júri na última edição do Festival de Berlim.
É admirável o modo como Fliegauf administra a tensão em torno do cotidiano de uma família cigana – formada por Mari, pelos dois filhos, Anna e Rio, e pelo pai inválido. Mãe e filhos vagam por espaços decadentes, arruinados, degradados. Moram numa área isolada e são obrigados a transitar por regiões desertas, nas quais se deparam com constantes agressões de uma galeria de personagens em final de linha. Conservam, ilusoriamente, o sonho de rumar para o Canadá, onde vive o marido/pai, em especial após o assassinato dos integrantes de outra família, mais abastada economicamente.
A atmosfera de ameaça, mais do que concreta, é realçada pelo trabalho dos atores (a exemplo da densidade e contenção da cigana Katalin Toldi, que interpreta Mari) e pela admirável utilização do som. O cineasta é bastante econômico no emprego da trilha sonora. Valoriza o som ambiente e produz expectativa por meio de um exasperante ruído de fundo, presente em algumas passagens desse filme duro, seco, destituído de concessões emocionais.
A câmera permanece próxima dos personagens, realçando uma agonia crescente que atinge proporções insuportáveis. Só uma cena soa um pouco artificial: aquela em que Anna presencia, de forma omissa, o ataque a uma colega num vestiário. Em todo caso, Benedek Fliegauf desponta no circuito brasileiro como um nome mais que promissor. Além da boa receptividade de Apenas o Vento , ganhou, em 2007, o Leopardo de Ouro no Festival de Locarno por Milky Way .