Houve um tempo, não muito distante, em que a estreia do grande vencedor do Festival de Berlim era aguardada com ansiedade pelos cinéfilos cariocas, não importando se o filme era turco, francês ou iraniano, ou se levava ou não a assinatura de algum diretor consagrado. Pois acaba de estrear no Rio a produção romena INSTINTO MATERNO, Urso de Ouro em Berlim 2013 (além de ganhador do Prêmio da Crítica). Em que circuito? Sala 1 do Estação Botafogo ou do Arteplex? Que nada. Três sessões diárias no minúsculo Cine Joia.
Se não fossem os bravos programadores do Joia, o filme sequer estrearia, assim como aconteceu com outros filmes que tinham tudo para serem vistos, discutidos e cultuados, mas que praticamente não passaram de uma semana em cartaz, como SOB A PELE, O CONGRESSO FUTURISTA e CÃES ERRANTES. O que está acontecendo com a cinefilia em nossa cidade? Como esperar que as distribuidoras continuem adquirindo os direitos de lançamentos de filmes com esse perfil se eles não são vistos por ninguém?
Isso significa que o que outrora se chamou de "circuito de arte" ande às moscas? Que nada. Passatempos de pouco valor artístico e cultural como O QUE OS HOMENS FALAM e CORAÇÃO DE LEÃO - O AMOR NÃO TEM TAMANHO são o tipo de filme que faz sucesso entre o público maduro quando eles não têm um Woody Allen para adicionar um pouquinho mais de erudição ao seu entretenimento.
Se INSTINTO MATERNO pena pra conseguir espaço no Joia e um ótimo filme de autor como FILHA DISTANTE, do argentino Carlos Sorín, fica relegado às salas menores do circuito Estação, a constrangedora comédia romântica belga BISTRÔ ROMANTIQUE (foto) merece lançamento de destaque. Não culpo os programadores. Deve haver, de fato, um público que se divirta com um amontoado de clichês e personagens estereotipados lavando a roupa suja de suas relações amorosas em meio a piadas absolutamente sem graça e situações forçadas no tal bistrô. Ah, mas imagens de deliciosos pratos de comida e a ausência da necessidade de se pensar ou compreender aquilo como Cinema vão de encontro ao que esse público quer.
Enquanto isso, para o que um dia se convencionou chamar de cinéfilos, vão restando cada vez menos opções no menu da tela grande. Há salvação?