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MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

05.11.2015
Por Daniel Schenker
Um balanço da recém-encerrada Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Alguns dos filmes mais destacados seguem sendo apresentados no Rio de Janeiro até o dia 11.

Assim como o Festival do Rio, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é um evento de grande porte que coloca o espectador diante das mais aguardadas produções contemporâneas – algumas, inclusive, podem ser conferidas no Rio (no Espaço Itaú, em programação que se estende até o dia 11). Mas os dois eventos têm diferenças marcantes. Enquanto o Festival destaca os filmes nacionais por meio da Première Brasil, em boa parte competitiva, a Mostra agrupa as produções brasileiras, sem, porém, conferir o mesmo destaque. Por outro lado, a Mostra tende a dar mais importância ao resgate de filmes antigos.

Na recém-encerrada 39ª edição, a Mostra prestou homenagem aos 25 anos do The Film Foundation, instituição criada pelo cineasta Martin Scorsese responsável, até agora, pelo restauro de cerca de 700 títulos, por meio da seleção de 25 filmes de países diferentes – entre eles, O Inquilino (1926), de Alfred Hitchcock (exibido, com acompanhamento musical, na Cinemateca Brasileira), Aconteceu Naquela Noite (1934), de Frank Capra, Como era Verde o meu Vale (1941), de John Ford, Rashomon (1950), de Akira Kurosawa, Sindicato de Ladrões (1954), de Elia Kazan, Juventude Transviada (1955), de Nicholas Ray, Rocco e seus Irmãos (1960), de Luchino Visconti, O Bandido Giuliano (1962), de Francesco Rosi, O Show deve Continuar (1979), de Bob Fosse, além do brasileiro Limite (1931), trabalho emblemático, o único de Mario Peixoto, que passaria os anos seguintes tentando, sem sucesso, concretizar um segundo projeto. Nessa seleção foi muito comentado, durante a Mostra, Manila nas Garras da Luz (1975), filme filipino assinado por Lino Brocka.

A Mostra também exibiu, em cópia restaurada, Meu Único Amor (1927), de Sam Taylor, no Auditório do Ibirapuera, com acompanhamento musical da Orquestra Sinfônica de Heliópolis. E prestou homenagem ao diretor italiano Mario Monicelli por meio de uma seleção de seus trabalhos, a exemplo de Os Eternos Desconhecidos (1958). Também ganharam espaço os diretores José Mojica Marins – seja através da reprise de produções lendárias, como À Meia-Noite levarei sua Alma (1964) e Esta Noite encarnarei no teu Cadáver (1967), seja da exibição de uma dos últimos anos, Encarnação do Demônio (2008) – Ermanno Olmi e Patricio Guzmán – os dois últimos por meio de obras recentes, respectivamente, Os Campos Voltarão , vencedor do Prêmio da Crítica na Mostra, e O Botão de Pérola . Orson Welles foi evocado por meio de dois filmes de Rogério Sganzerla, Tudo é Brasil (1998) e O Signo do Caos (2003).

Como de hábito, determinadas cinematografias são eleitas. Na Mostra desse ano, o foco recaiu sobre os países nórdicos, com destaque para Pardais (coprodução Islândia/Dinamarca/Croácia), dirigido por Rúnar Rúnarsson, que saiu com o Prêmio do Júri destinado a realizações de novos diretores e o de melhor roteiro da Associação Autores de Cinema, e o recém-lançado Olmo e a Gaivota (coprodução Brasil/Dinamarca/Portugal/França), de Petra Costa e Lea Glob. Ainda em relação à produção contemporânea, os filmes mais elogiados ao longo da Mostra foram As Mil e uma Noites , projeto monumental de Miguel Gomes apresentado em três partes (intituladas O Inquieto , O Desolado e O Encantado ), algumas produções premiadas no Festival de Cannes – casos de Son of Saul , de Lázló Nemes, vencedor do Grande Prêmio do Júri, A Terra e a Sombra , de César Augusto Acevedo, que ganhou o prêmio Caméra D’Or, e O Abraço da Serpente , de Ciro Guerra, contemplado na Quinzena dos Realizadores –, Ixcanul , longa de estreia de Jayro Bustamante premiado no Festival de Berlim, Visita ou Memórias e Confissões (1981), filme póstumo de Manoel de Oliveira, e os já citados O Botão de Pérola e Os Campos Voltarão . A seleção da Mostra que está sendo exibida no Rio inclui vários desses filmes: As Mil e uma Noites , A Terra e a Sombra , Visita ou Memórias e Confissões , O Botão de Pérola e Os Campos Voltarão .

No que se refere às produções brasileiras, a Mostra reuniu diversos títulos, muitos, porém, exibidos em outros festivais, principalmente do Rio – Aspirantes , de Ives Rosenfeld, vencedor do Prêmio Abraccine, Quase Memória , de Ruy Guerra, Campo Grande , de Sandra Kogut, Órfãos do Eldorado , de Guilherme Coelho, Futuro Junho , de Maria Augusta Ramos, 82 Minutos , de Nelson Hoineff, A Floresta que se Move , de Vinicius Coimbra, Boi Neon , de Gabriel Mascaro, A Morte de J.P. Cuenca , de João Paulo Cuenca, Beira-Mar , de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, Em Três Atos , de Lucia Murat, Ralé , de Helena Ignez, Nise, o Coração da Loucura , de Roberto Berliner, Mate-me Por Favor , de Anita Rocha da Silveira –, mas também de Tiradentes – Órfãos , Mais do que eu possa me Reconhecer , de Allan Ribeiro –, de Gramado - Ponto Zero , de João Pedro Goulart, Um Homem Só , de Claudia Jouvin - e de Brasília – Fome , de Cristiano Burlan, A Família Dionti , de Alan Minas, Para minha Amada Morta , de Aly Muritiba.

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é uma iniciativa que prova que qualidade e quantidade não são características excludentes.

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