Depois do excelente Sully: o herói do Rio Hudson, Clint Eastwood volta a dirigir um filme baseado em fato heroico realmente acontecido: desta vez, sobre os três jovens americanos de 23 anos que conseguiram impedir o massacre planejado por um terrorista do Estado islâmico dentro de um trem que ia de Amsterdã para Paris em agosto de 2015.
Diferentemente do filme anterior que se desdobrava como “filme de tribunal”, mesclando o pouso forçado nas águas do Rio Hudson com o julgamento do comandante que fez a escolha arriscada, mas que redundou no salvamento de toda a tripulação, o episódio do trem é de curta duração. Para ocupar o tempo de um longa-metragem (94 minutos, com os créditos) o roteiro enfoca passagens da vida dos três heróis desde a infância. E a coisa começa mal numa cena, ainda que adequadamente crítica ao uso de medicamentos para crianças pela pretensão de “diagnóstico” por parte de professores sobre o tal Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA). A professora que conversa com as mães é uma caricatura, enquanto as duas atrizes que fazem as mães dos meninos Spencer Stone e Alek Skarlatos são boas atrizes. Fica tudo muito maniqueísta e ruim de cara.
Mas nada pior do que, quando antes do episódio do trem, vemos os próprios Stone, Skarlatos e o terceiro amigo, Anthony Slater, passeando pela Europa, “interpretando” seus próprios papéis com o talento não muito melhor do que o de participantes de um BBB. Os diálogos são tolos, vazios e mal verbalizados, deixando este trecho do filme bem constrangedor. Aliás, excetuando-se as tiradas maternas em defesa de suas crianças, as melhores falas do filme ficam a cargo do discurso do então presidente francês, François Hollande, ao entregar aos três americanos (e a um inglês) as medalhas da Legião de Honra.
O ataque frustrado no trem é tão bem-feita quanto seria de se esperar do artesanato de Eastwood em cena de ação, mas, no todo, o filme ficou apenas na boa intenção de mostrar que pessoas comuns, nem sempre bem-sucedidas no que tentavam fazer profissionalmente, possam se superar em atos de heroísmo.
P.S.: Não falta uma cena dos personagens, quando garotos, brincando com armas: um bom treinamento para o futuro heroico?