O diretor Robert Guédiguian novamente trabalha com sua mulher, Ariane Ascaride, e com seus amigos Jean-Pierre Darroussin e Gérard Meylan no elenco: desta vez, em um gênero diferente de outros filmes seus lançados no Brasil. Lady Jane traz uma trama de melodrama criminal - uma espécie de neo-filme noir à francesa - e quase nada de seu enredo pode ser dito aqui, já que há várias camadas de informações sobre os personagens que só serão levantadas ao longo da narrativa. Como nem mesmo dois deles conhecem todos os detalhes do passado de um outro e ignoram até mesmo vários aspectos de antigos episódios vividos em comum, o filme tem um certo álibi para o esconde-esconde de informações ao público. Mas ainda que tal característica seja um recurso inerente ao formato do gênero "policial", há muita coisa sonegada à platéia na primeira metade do roteiro.
Por outro lado, é plausível supor que a intenção do cineasta tenha sido a de reciclar este tipo de narrativa para falar sobre uma motivação humana (não rara em histórias policiais) que só vai ser explicitada quando os segredos forem revelados. Esta motivação é enfatizada em um forte ditado armênio que encerra a projeção, mas antecipar qual é também prejudica o que parece ter sido a intenção dos realizadores quanto à experiência do futuro espectador que vai se deparar com o que se desenrola na tela.
Se o desenvolvimento do roteiro pode sofrer alguns questionamentos (há detalhes que soam “exagerados” enquanto outros parecem “minimizados”), o resultado final é mais favorável do que a realização anterior do cineasta que esteve em cartaz neste mesmo ano de 2008 no Brasil, Armênia (2006). A julgar por seus filmes mais conhecidos entre nós, Guédiguian é mais objetivo (e melhor) quando se limita mais especificamente a um retrato político (O Ùltimo Mitterand, 2005) ou em situações “íntimas” com pano de fundo social (A Cidade está Tranquila, 2001), mas não conseguiu unir satisfatoriamente dramas pessoais com política em Armênia. Já havia naufragado no melodrama Marie-Jo e seus dois amores, de 2004, e são os traços de melodrama que pesam um pouco em Lady Jane. Mas as cenas conclusivas e o trio de atores colaboram no saldo mais favorável, especialmente no que diz respeito a Ariane Ascaride, novamente tão econômica quanto intensa na composição de sua personagem.
# LADY JANE (LADY JANE)
FRANÇA, 2008
Direção: ROBERT GUÉDIGUIAN
Roteiro: ROBERT GUÉDIGUIAN e JEAN-LOUIS MILESI
Fotografia: PIERRE MILON
Edição: BERNARD SASIA
Elenco: ARIANE ASCARIDE, JEAN-PIERRE DARROUSSIN, GÉRARD MEYLAN.
Duração: 102 minutos
Site oficial: http://www.diaphana.fr/fiche.php?pkfilms=166