Adagio Sostenuto  discute as bordas da existência e da imagem cinematográfica. Ressalta uma diferença fundamental: para fazer o tempo retroceder no cinema, basta apertar uma tecla; já na vida, não há como manipular. O passado só se torna presente através das lembranças. 
Entretanto, o diretor Pompeu Aguiar não se limita a retroceder imagens. Aborda o cinema, isto sim, como uma manifestação artística que cristaliza o tempo ao conservar inalteradas imagens anteriormente registradas que podem ser sempre reprisadas de modo idêntico. Eventuais alterações decorrem de condições específicas da projeção e não do que é projetado. Talvez, nesse sentido, o cinema alivie o inevitável confronto com a morte, tema maior de  Adagio Sostenuto . Pode-se especular a respeito da morte como fim absoluto; mas é certo que determinados filmes não se encerram após a projeção do último plano. 
Juízos de valor à parte, trata-se de um trabalho que se pretende inacabado. O espectador é convidado a se apropriar das imagens a que assiste. Para tanto, o cineasta conduziu os atores (Alexandre Borges, especialmente bem, e Priscilla Rozenbaum participam em off) no sentido de não imprimir uma carga de intencionalidade ao texto, que acaba adquirindo uma qualidade hipnótica e propiciando ao público aproveitar a experiência da escuta. 
Assombrada pela impotência diante da morte de José, seu marido, Anna, única personagem que transita pela tela (interpretada com sutileza e vigor por Dedina Bernadelli), vira portadora de um “desespero que não passa”. Os espaços desertos inseridos ao longo de  Adagio Sostenuto  potencializam sua sensação de desolação. Mas não “apenas”. Também são imagens de uma natureza intocada, evidências de um tempo que parece estagnado. Pompeu Aguiar não oculta referências: num dado momento, um cartaz de  Elogio ao Amor , de Jean-Luc Godard, se impõe frente à plateia.
#  ADAGIO SOSTENUTO 
 Brasil, 2009 
 Direção:  POMPEU AGUIAR
 Roteiro:  POMPEU AGUIAR, PAULO CORIOLANO
 Montagem:  POMPEU AGUIAR, MARIA CONTINENTINO
 Fotografia:  ANTONIO LUIZ MENDES
 Direção de Arte:  ISABEL PARANHOS
 Elenco:  DEDINA BERNADELLI, ALEXANDRE BORGES, PRISCILLA ROZEMBAUM
 Duração: 106 minutos