Críticas


A BATALHA DO PASSINHO

De: EMILIO DOMINGOS
11.10.2013
Por Carlos Alberto Mattos
Dançar é uma forma suprema de dizer

Moleques de mola

Chega enfim aos cinemas o delicioso A Batalha do Passinho. Emilio Domingos não precisou lançar mão de nenhuma fórmula de sucesso ou truque de narrativa para mostrar como um documentário pode sondar o imaginário de uma comunidade enquanto parece apenas ver e ouvir despreocupadamente os personagens. Ao redor da dança do passinho, fenômeno popular nos últimos anos, é todo um estilo de vida que se desvela nas palavras desses moleques de mola: a vaidade um tanto inocente, a afetividade transbordante, a linguagem peculiar, as ambições de bons moços. Nessa etnografia casual, estamos muito distante das imagens fatalistas da favela e da periferia. O que vemos é uma juventude conectada fraternalmente e concentrada em suas aspirações.

Talvez por isso destoe um pouco o tratamento que recebe a morte obscura de um personagem ali pelo fim do filme. A interferência da bruta realidade catalisa um certo excesso de homenagens e algumas falas proselitistas, especialmente do escritor Julio Ludemir, um dos criadores da "batalha".* As participações de Ludemir e Rafael Nike, por sinal, soam menos orgânicas que as da comentadora principal, Leandra Perfects, mediadora da comunidade virtual Passinho Foda.

O funk dita o ritmo para a edição do filme, evidenciando o quanto de surpresa, teatro, pantomima e sátira de comportamento existe no passinho. Além disso, há ali um testemunho precioso sobre as formas de criação e circulação da arte popular na era da internet. São muitas, enfim, as razões por que este é um filme não só contagiante e divertido, mas também fundamental para entendermos as dinâmicas da cidade contemporânea.

A dança é talvez a forma mais vital de expressão artística e sem dúvida uma das mais democráticas. É a voz do corpo gritando o que nem sempre a voz da garganta é capaz de exprimir. A dança conclama o corpo a uma forma clara de estar no mundo e a uma atitude muito eloquente perante a realidade. Dançar é uma forma suprema de dizer. Tudo isso está patente em A Batalha do Passinho.

* A principal fala a que me referia, com base em corte anterior, foi eliminada na versão do filme que está nos cinemas.

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