À primeira vista, o quinto filme do ex-menino prodígio Xavier Dolan parece confirmar um realizador corajoso e que domina cada vez mais seu universo temático e as ferramentas de uma narrativa autoral. Lidando mais uma vez com a relação mãe-filho (como no seu longa de estreia, Eu Matei Minha Mãe), ele coloca dessa vez o foco dos problemas no garoto e o ponto de vista na mãe. Steve tem transtornos de hiperatividade e déficit de atenção, o que o faz comportar-se de maneira caótica e ter surtos de violência. Diane o cria sozinha na esperança de uma melhora que nunca vem. Quando uma família se muda para a casa em frente, ela passa a receber a ajuda de Kyla, uma jovem com distúrbios de ansiedade que ocasionalmente funcionará como um anjo da guarda para Steve.
A questão psiquiátrica e as oscilações de afeto entre os três parecem bem desenvolvidas e defendidas com garra pelo elenco em interpretações sempre muito tensas ou expansivas no dialeto québequois. Entretanto, o filme é tão sobrecarregado de maneirismos que incomoda não só pelo tema, mas também pelo estilo. Mãe e filho, principalmente, se expressam com uma overdose de "caras e bocas", como se tudo precisasse ser sublinhado facialmente para impactar a plateia. A mais ou menos cada 15 minutos a história se interrompe para brindar o público com uma canção, o que já constitui um lugar-comum dos filmes que almejam se conectar com espectadores jovens. A câmera faz do foco um gadget que tem mais a ver com caprichos do que com necessidades de exposição. O uso da tela quadrada (novo modismo no cinema internacional inspirado pelas telas de celular) é destinado a comprimir os personagens nos limites estreitos de uma vida difícil, abrindo-se para o formato normal somente em dois interlúdios de bem-estar ou imaginação. Na medida em que prolifera sem maiores justificativas, isso também tende a se tornar um efeito maneirista.
Mommy é atravancado ainda por algumas implausibilidades, como a alienação mal explicada de Kyla em relação a sua própria família, a despropositada sequência do karaokê, a falta de socorro dos presentes na cena do supermercado e a violência no momento de uma internação. Provavelmente para justificar essa última, foram acrescentadas referências a uma nova lei que teria sido implantada no "Canadá fictício de 1915". Recurso picareta, sem dúvida, que não justifica colocar a falsificação dramática acima da verossimilhança em narrativa de tal apelo naturalista.
Mommy ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes e tem sido muito festejado pela força cinética que jorra da tela. Mas suas deficiências e excessos revelam que Xavier Dolan ainda não amadureceu. Apenas malhou os músculos.