Críticas


INFÂNCIA

De: DOMINGOS OLIVEIRA
Com: FERNANDA MONTENEGRO, RAUL GUARANÁ, MARIA FLOR, PAULO BETTI
11.09.2015
Por Carlos Alberto Mattos
O filme põe em cena a infância da nossa modernidade

A carreira ultimamente irregular de Domingos Oliveira ganha um ponto acima da curva com Infância, que creio ser o seu primeiro filme de época. Embora irregular também internamente, o filme tem tantos momentos de perspicácia e humor que se torna irresistível. O viés autobiográfico é ambíguo e centra-se no menino Rodrigo, cercado por uma família da burguesia industrial nos anos 1950. No papel da imperial matriarca Dona Mocinha, Fernanda Montenegro fatura cada frase e cada inflexão num retrato de doce arrogância e autoritarismo congênito. Não há mesmo atriz como ela, capaz de transformar a fala mais corriqueira numa cintilação de surpresa e autenticidade.

Domingos demonstra aqui um acento renoiriano (A Regra do Jogo) na exposição da moral da época. As relações conjugais, familiares, econômicas e de classe são desvendadas através de diálogos e situações imprevisíveis, dirigidas com propriedade, ainda que nem sempre os atores infantis deem conta do recado com a naturalidade e a fluência desejáveis. Mas a execução técnica é a melhor de seus últimos filmes.

No pano de fundo, a guerra entre Samuel Wainer (Última Hora) e Carlos Lacerda anuncia a iminência do fim da Era Vargas e da abertura de um novo capítulo na história do país e de nossas famílias. Assim como Domingos viria a representar um filão da cultura brasileira na segunda metade do século passado, este filme põe em cena a infância da nossa modernidade.

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