O grande barato de ELVIS & NIXON é ver Michael Shannon e Kevin Spacey nos papéis principais. Shannon vem angariando admiradores de seu talento desde que protagonizou a obra-prima “Bug” (bizarramente batizado de “Possuídos” no Brasil), de William Friedkin. Desde então ele interpretou basicamente o mesmo tipo de personagem introspectivo e esquisitão em ótimos filmes como “Foi Apenas Um Sonho” e “O Abrigo” e na série “Boardwalk Empire”. Daí a curiosidade para vê-lo encarnando um astro pop como Presley. Mas logo se percebe que Shannon está muito mais parecido com seus personagens anteriores do que com Elvis. Fugir do estereótipo parece intencional, o que fica claro na cena ele se depara com imitadores de Elvis no aeroporto.
Já em relação a Kevin Spacey, por mais que ele tente incorporar o jeito de andar e falar do presidente americano Richard Nixon, é impossível não ter a sensação de que estamos diante de Francis Underwood (seu personagem na série “House of Cards”) imitando Nixon.
O filme gira em torno da visita de Elvis à Casa Branca em 1970. O excêntrico astro do rock queria ser escalado por Nixon como um agente federal de combate ao consumo de drogas, e depois de muita insistência de seus assessores e graças a um pedido de sua filha, o presidente aceitou recebê-lo. Uma das boas sacadas do roteiro foi a de mostrar uma faceta mais informal de duas figuras icônicas, extremamente conhecidas mas pouco acessíveis ao cidadão comum. A cena em que os assessores de Nixon e de Elvis se cercam de cuidados protocolares que ambos devem ter no encontro é ótima e expõe esse culto excessivo às personalidades. Mas e quando um presidente americano recebe o maior nome da música pop na ocasião, quem deve se submeter às excentricidades do outro? Imagine um presidente brasileiro recebendo Roberto Carlos em seu gabinete...
Quando finalmente a audiência acontece, ela não frustra expectativas, gerando boas gargalhadas. Praticamente o filme se resume a isso, mas o pouco que ele oferece em 86 minutos já é suficiente para nos divertirmos com essa bizarra (e ao que tudo indica, verídica) história.