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FESTIVAL DO RIO 2012: TRASHED – PARA ONDE VAI NOSSO LIXO

28.09.2012
Por Carlos Alberto Mattos
DESCARTE A SOCIEDADE DESCARTÁVEL

Jeremy Irons vem ao festival. Com certeza irá ao lixão de Gramacho, fechado oficialmente em junho passado. Talvez veja alguns capítulos de Avenida Brasil para conhecer mais uma forma de degeneração derivada dos lixões. A julgar por sua performance no documentário Trashed – Para Onde Vai Nosso Lixo (Trashed), ele já está acostumado. Nem tapa mais o nariz. Como apresentador dessa reportagem global, vemo-lo de botas no meio das montanhas de lixo de uma praia no Líbano, catando dejetos numa praia inglesa, respirando as dioxinas espalhadas no ar de uma cidadezinha da Islândia, visitando crianças deformadas pelo agente laranja no Vietnã.



O filme, dirigido por Candida Brady, é um doc-aula e um doc-alerta que timidamente acusa governos de não se importarem com o destino do lixo e enfaticamente exorta o espectador a fazer sua parte, começando por evitar o uso de sacos plásticos e separar o lixo reciclável dentro de casa. Irons não tem o humor e a agudeza de um Michael Moore, nem a pose professoral de um Al Gore. Seu “papel” é do cara mais ou menos comum que se mostra preocupado com a situação e disposto a aprender. Daí pode surgir uma razoável identificação com o espectador médio, que inevitavelmente sairá do cinema afetado pelo que viu e ouviu.



Mas até que isso aconteça, esse espectador terá que passar por uma preleção às vezes enfadonha. Explica-se, por exemplo, a diferença entre “cinzas de fundo” e “cinzas áereas” nos efeitos nocivos da incineração, fala-se em “digestão anaeróbica” e quetais. São explicações longas e detalhadas, que não estão ali para divertir, mas para conscientizar. Quando chegam os créditos finais, estamos suficientemente enojados da nossa sociedade descartável. E preocupados com a saúde de Jeremy Irons.

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