No período de pouco mais de um ano, os brasileiros tiveram oportunidade de assistir no cinema a três filmes sobre conflitos geracionais envolvendo a tradição arcaica dos casamentos arranjados em famílias turcas e paquistanesas. No melhorzinho deles, “Cinco Graças”, havia um toque de ternura que amenizava o tom pesado de filme-denúncia. Já a bomba “A Segunda Esposa” era um histérico vale de lágrimas, um dramalhão turco com cara de novela mexicana.
Agora está em cartaz A GAROTA OCIDENTAL – ENTRE O CORAÇÃO E A TRADIÇÃO (ou simplesmente “Noces”, “Núpcias”, no original) , contando a mesma história com pequenas variações. Zahira é uma jovem de origem paquistanesa vivendo na Bélgica, onde passaria por uma estudante belga como qualquer outra se não estivesse enfrentando dois problemas: primeiro, uma gravidez acidental; segundo a obsessão dos pais para que ela case com um jovem lá do Paquistão, com o intuito de seguir a tradição. O filme é correto, bem dirigido, com bons momentos, como uma cerimônia celebrada via skype e o vaivém de decisões que refletem a confusão mental de Zahira (em ótima atuação de Lina El Arabi).
Entretanto, ele parece cometer o mesmo equívoco que os outros: por tratar de um tema nobre, humanista, é como se afirmar-se como filme-denúncia bastasse para conquistar a plateia. Por conta disso, caminha rumo a um desfecho que é claramente previsível graças a um objeto que aparece numa cena na mercearia do pai de Zahira, servindo de deixa para algo que aconteceria mais tarde. Recurso óbvio ao qual um bom roteirista não deveria recorrer.
E essa coisa de filme-denúncia nem sempre tem o efeito desejado: se a intenção é provocar indignação na plateia para o fato de que, em pleno século 21, mulheres ainda tenham que se submeter a casamentos arranjados em nome de tradições arcaicas de países como o Paquistão, mesmo morando em um lugar liberal como a Belgica, a mensagem nem sempre é compreendida apenas dessa forma. Na saída da sessão em que vi o filme, um homem falava para o amigo, em perigosa generalização: “Que raça de merda, que povo de merda”.