Críticas


A GAROTA OCIDENTAL

De: STEPHAN STREKER
Com: LINA EL ARABI, BABAK KARIMI, OLIVIER GOURMET
26.08.2017
Por Marcelo Janot
Correto, bem dirigido, com bons momentos, mas com final previsível.

No período de pouco mais de um ano, os brasileiros tiveram oportunidade de assistir no cinema a três filmes sobre conflitos geracionais envolvendo a tradição arcaica dos casamentos arranjados em famílias turcas e paquistanesas. No melhorzinho deles, “Cinco Graças”, havia um toque de ternura que amenizava o tom pesado de filme-denúncia. Já a bomba “A Segunda Esposa” era um histérico vale de lágrimas, um dramalhão turco com cara de novela mexicana.

Agora está em cartaz A GAROTA OCIDENTAL – ENTRE O CORAÇÃO E A TRADIÇÃO (ou simplesmente “Noces”, “Núpcias”, no original) , contando a mesma história com pequenas variações. Zahira é uma jovem de origem paquistanesa vivendo na Bélgica, onde passaria por uma estudante belga como qualquer outra se não estivesse enfrentando dois problemas: primeiro, uma gravidez acidental; segundo a obsessão dos pais para que ela case com um jovem lá do Paquistão, com o intuito de seguir a tradição. O filme é correto, bem dirigido, com bons momentos, como uma cerimônia celebrada via skype e o vaivém de decisões que refletem a confusão mental de Zahira (em ótima atuação de Lina El Arabi).

Entretanto, ele parece cometer o mesmo equívoco que os outros: por tratar de um tema nobre, humanista, é como se afirmar-se como filme-denúncia bastasse para conquistar a plateia. Por conta disso, caminha rumo a um desfecho que é claramente previsível graças a um objeto que aparece numa cena na mercearia do pai de Zahira, servindo de deixa para algo que aconteceria mais tarde. Recurso óbvio ao qual um bom roteirista não deveria recorrer.

E essa coisa de filme-denúncia nem sempre tem o efeito desejado: se a intenção é provocar indignação na plateia para o fato de que, em pleno século 21, mulheres ainda tenham que se submeter a casamentos arranjados em nome de tradições arcaicas de países como o Paquistão, mesmo morando em um lugar liberal como a Belgica, a mensagem nem sempre é compreendida apenas dessa forma. Na saída da sessão em que vi o filme, um homem falava para o amigo, em perigosa generalização: “Que raça de merda, que povo de merda”.





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