Críticas


THE SQUARE

De: RUBEN ÖSTLUND
Com: CLAES BANG, ELISABETH MOSS, DOMINIC WEST
04.01.2018
Por Marcelo Janot
A ânsia por abordar tantos assuntos não chega a tirar o brilho deste filme provocador.

Entre os inúmeros temas tratados em “The Square: A Arte da Discórdia” sobressai a crítica à anestesia social que contamina as boas intenções das classes privilegiadas, como se somente quando tirados da zona de conforto por algum fato imprevisível é que mostrássemos quem realmente somos. O filme anterior do diretor sueco Ruben Östlund, o instigante “Força Maior”, era um estudo sobre como a reação instintiva de abandonar a família para proteger a si mesmo durante uma avalanche de neve afetava a vida de um indivíduo. Dessa vez, o foco está na atitude tomada pelo curador de um museu ao perceber que foi vítima de um golpe e teve os pertences roubados. Christian (o ótimo Claes Bang) consegue rastrear o celular e decide enviar uma carta colocando sob suspeita todos os moradores do edifício onde o aparelho se encontra, na periferia de Estocolmo.

A partir de então, a série de imprevistos que se sucedem em sua vida privada se conectarão ao ambiente profissional. A instalação que está prestes a inaugurar consiste em um grande quadrado pintado no chão, definido como um “santuário de confiança e cuidado, um espaço onde compartilhamos direitos e responsabilidades”. Ou seja, metáfora de um mundo idealizado que, a julgar pelas atitudes de Christian e dos que convivem com ele, facilmente se prova utópico.

Uma versão de “Ave Maria” com Bobby McFerrin e Yo-Yo Ma pontua ironicamente toda a narrativa, acompanhando a “dessacralização” do universo artístico promovida por uma série de situações inusitadas e tratadas com viés tragicômico. A que mostra um ator fazendo uma performance de gorila num jantar de gala é antológica e por si só justifica a Palma de Ouro conquistada em Cannes.

O olhar satírico de Östlund também tem outros alvos, como o choque geracional personificado na figura dos jovens marqueteiros que acham que só a polêmica gratuita é capaz de dar visibilidade à arte. Ele questiona os limites do politicamente correto com a gag em que um portador da Síndrome de Tourette atrapalha a entrevista de um artista. Algumas críticas, entretanto, não são bem resolvidas pelo roteiro e ficam apenas no nível anedótico, como a relação sexual entre Christian e a repórter americana (Elizabeth Moss) que vive com um chimpanzé (!). A ânsia por abordar tantos assuntos às vezes atrapalha a narrativa, mas não chega a tirar o brilho deste filme provocador.

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