Críticas


BANDEIRA DE RETALHOS

De: SÉRGIO RICARDO
Com: KIZI VAZ, RENAN MONTEIRO, MARCELLO MELO
27.01.2018
Por Daniel Schenker
Apesar desse novo filme de Sérgio Ricardo priorizar o tom informal (no registro interpretativo, no modo de filmar), a construção da dramaturgia fica perceptível. O resultado não soa artificial.

Bandeira de Retalhos rendeu uma boa montagem do grupo Nós do Morro. Agora, Sérgio Ricardo, autor do texto, retoma sua atividade como diretor de longa-metragem, depois de um hiato de 44 anos, por meio dessa versão para o cinema, apresentada na 21ª edição da Mostra de Tiradentes. Apesar de a produção priorizar o tom informal (no registro interpretativo, no modo de filmar), a qualidade da dramaturgia foi mantida na transposição para a tela. A construção do texto é perceptível, mas não soa artificial.

Sérgio Ricardo ficcionaliza um acontecimento real ocorrido em 1977: a tentativa de desapropriação forçada de muitos moradores do Vidigal, que seriam deslocados para Antares, em Santa Cruz, mas resistem diante da arbitrariedade. Na estrutura do filme é possível notar a conjugação entre o fato histórico (realçado pela inclusão de imagens de arquivo em preto e branco) e um triângulo amoroso explosivo entre Tiana (Kizi Vaz), o marido, Neno (Marcello Melo), e o bandido foragido Bituca (Renan Monteiro).

O drama coletivo é entrelaçado com as jornadas específicas – de Tiana, Neno e Bituca, que, porém, se envolvem com a situação que afeta a todos – e contrastado com o individualismo – simbolizado por Isidoro (Babu Santana). Sérgio Ricardo procura claramente chamar atenção para a união entre os vizinhos, a disposição para ajudar o outro num momento dramático, postura talvez pouco valorizada nos dias de hoje. Nesse sentido, mesmo evocando um episódio de 40 anos atrás, o diretor não perde de vista a conexão com a contemporaneidade.

A comunhão faz provavelmente parte do próprio processo de Bandeira de Retalhos , filme concretizado com orçamento reduzido, em esquema de guerrilha, por vários integrantes do Nós do Morro – no elenco, cabe mencionar ainda Guti Fraga, fundador da companhia, e Fatima Domingues, preparadora dos atores, que assinaram a encenação do texto no teatro. Antonio Pitanga, que Sérgio Ricardo dirigiu em filmes como Esse Mundo é Meu (1964) e Juliana do Amor Perdido (1969), também ganhou papel, assim como Bemvindo Siqueira e Osmar Prado.

Os méritos do projeto, contudo, não são suficientes para ocultar fragilidades referentes à realização aparentemente apressada de algumas sequências e ao resultado irregular alcançado junto aos atores, valendo, em todo caso, destacar as ótimas interpretações de Kizi Vaz e João Gurgel.

Foto: Felipe Paiva

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