Críticas


FESTIVAL DO RIO 2006: JONESTOWN

De: STANLEY NELSON
23.09.2006
Por Carlos Alberto Mattos
ONDE DEUS E O DIABO SE ENCONTRAM

Quer uma prova de que um documentário careta pode ser um grande documentário? Então vá ver Jonestown: Vida e Morte no Templo do Povo. O veterano Stanley Nelson, de carreira identificada com a causa negra nos EUA, teve seu interesse despertado pela utopia inter-racial pregada pelo pastor Jim Jones nos primeiros tempos do Templo do Povo. Pelo menos nesse aspecto, a proposta foi revolucionária até o fim. A coexistência harmônica de negros, brancos e amarelos ainda era visível nas cenas filmadas um dia antes do suicídio em massa de mais de 900 fiéis, na comunidade da Guiana, em 1978.



O filme, como que atendendo ao apelo deixado numa carta anônima, reúne o maior volume de material sobre a trajetória do pastor e sua igreja, desde os tempos em que o menino Jim Jones desafiava o appartheid no sul dos EUA (seu pai era membro da Ku Klux Klan) e ao mesmo tempo sacrificava gatinhos para enterrá-los condignamente. Filmes domésticos, fotos, cenas de pregações e do cotidiano da comunidade, além de assustadores registros de áudio, historiam o crescimento do rebanho e a gradual evolução da igreja no rumo de um agrupamento totalitário, regido por um misto de ditador paranóico e sedutor eclético.



Paralelamente, uma série de depoimentos de ex-membros (incluindo um filho adotivo de Jim Jones) desvelam os bastidores da seita, onde havia lugar para toda forma de sujeição sexual, chantagens espirituais, ameaças físicas, emboscadas e assassinatos. Nunca tantos detalhes sobre uma das maiores tragédias da era moderna vieram à tona, nem de maneira tão viva e convincente. O roteiro primoroso de Marcia Smith nos leva exatamente ao ponto em que Deus e o diabo se encontram.





# JONESTOWN: VIDA E MORTE NO TEMPLO DO POVO (JONESTOWN: THE LIFE AND DEATH OF PEOPLES TEMPLE)

EUA, 2006

Direção: STANLEY NELSON

Duração: 86 minutos

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