Críticas


FELIZ NATAL

De: CHRISTIAN CARION
Com: BENNO FÜRMANN, GUILLAUME CANET, GARY LEWIS, DANIEL BRÜHL
01.12.2006
Por Marcelo Janot
SEM FRONTEIRAS

A obra-prima antibelicista A Grande Ilusão, realizada em 1937 pelo francês Jean Renoir, preocupou os nazistas por conta da mensagem humanitária que subvertia os códigos de guerra, mas não conseguiu evitar a Segunda Guerra Mundial. Quase 70 anos depois, Feliz Natal (Joieux Noel), de Christian Carion, mesmo sem a genialidade de Renoir, retoma com talento e sensibilidade a lição deixada pelo mestre.



O filme revive um episódio ocorrido às vésperas do Natal de 1914, nas trincheiras da Primeira Guerra. Pelotões franceses, alemães e escoceses, desafiando ordens superiores, decretam trégua na batalha sangrenta quando um soldado-tenor alemão começa a cantar e é acompanhado por gaitas de fole escocesas. Outros acontecimentos surpreendentes se sucedem, evocando a utopia de Renoir de um mundo unificado e sem barreiras pátrias e sociais.



No material de divulgação do filme, o diretor Christian Carion conta que se inspirou no livro Battles of Flanders and Artois – 1914-1918, de Yves Buffetaut, e em nenhum momento de seu texto de apresentação faz menção a A Grande Ilusão, o que é no mínimo muito estranho, pois há diversas semelhanças entre o filme de Renoir e o seu. Embora não abordem exatamente a mesma história, contextualmente se parecem muito. Se passam durante a Primeira Guerra, com cenas na noite de Natal. Em ambos, as diferenças sociais e religiosas são abolidas, e o homem se coloca como elemento desafiador do Estado.



Feliz Natal é um filme menos ambicioso politicamente do que A Grande Ilusão, mas o título um tanto simplório sugere uma daquelas produções natalinas água com açúcar, o que ele está longe de ser. Seu trunfo é tratar o absurdo da guerra com um humor delicado e poético, sem escorregar na caricatura cômica ou nas as armadilhas do melodrama fácil. O roteiro tem inúmeros pequenos achados, como a disputa por um gato vira-lata ou a cena em que os pelotões se juntam em uma só trincheira para bombardearem o outro lado, simulando um ataque sem vítimas. Nesse momento, a única coisa que incomoda os soldados é o barulho do bombardeio, reforçando a mensagem de que o mundo seria muito mais feliz se a guerra só afetasse os ouvidos...



# FELIZ NATAL (JOIEUX NOËL)

França, 2005

Direção e Roteiro: CHRISTIAN CARION

Produção: CHRISTOPHE ROSSIGNON

Fotografia: WALTHER VANDEN ENDE

Edição: ANDREA SEDLACKOVA

Música: PHILIPPE ROMBI

Elenco: BENNO FÜRMANN, GUILLAUME CANET, GARY LEWIS, DANIEL BRÜHL, DIANE KRÜGER

Duração: 118 min.

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