A diretora e roteirista Nancy Meyers é o tipo de profissional que os estúdios de Hollywood adoram. Afinal, seu cinema segue fielmente a cartilha das comédias românticas de retorno financeiro garantido. Foi assim com seus filmes anteriores, Alguém tem que Ceder e Do que as Mulheres Gostam, e não é diferente com esse O Amor Não Tira Férias, que ainda pega carona no espírito natalino.
O cinema de Meyers tem como trunfos bons elencos, com atores conhecidos e carismáticos, e temas que falem...do que as mulheres gostam. As mulheres são seu público-alvo, que se identificam de pronto com a executiva independente e bem-sucedida de Do que as Mulheres Gostam, com a escritora de meia-idade que redescobre o amor em Alguém Tem Que Ceder ou com as balzacas desiludidas de O Amor Não Tira Férias. Os homens podem até achar interessante se colocarem na pele de Mel Gibson para realizar a fantasia de ler o pensamento feminino no primeiro filme, mas correm sério risco de se irritarem com a choradeira ininterrupta de Diane Keaton no segundo ou com o bom-mocismo quase angelical de Jude Law no último.
O fato é que Nancy Meyers e seus patrões não gostam de correr riscos. Seus roteiros parecem moldados para ceder aos clichês das comédias românticas (e aos merchandisings de laptops – todos eles têm personagens usando computadores, com as marcas bem visíveis...). Ironicamente, o melhor personagem de O Amor Não Tira Férias é um roteirista dos anos dourados de Hollywood (interpretado pelo nonagenário Eli Wallach, de Os Desajustados) desiludido com os rumos do cinema americano nos dias de hoje, o mesmo cinema que tem em Meyers uma de suas lucrativas engrenagens. Seu discurso crítico e as referências a filmes do passado surpreendem em se tratando de um filme para um público “médio”, mas nada que possa mexer com as estruturas da indústria do cinema-pipoca.
As concessões sentimentalóides, especialmente na parte final, quase estragam a ótima premissa, que é ver como uma executiva americana (Cameron Diaz) e uma jornalista inglesa (Kate Winslet) se saem ao trocarem de casa por duas semanas. Se não fossem o carisma das atrizes e o olhar acurado sobre o contraste cultural (com ótimas observações, como a menininha inglesa comparando Cameron com sua boneca Barbie, entre outras boas sacadas), seria difícil continuar achando o filme simpático após longos 138 minutos. Porque esse é outro problema grave do cinema de Meyers: nenhum de seus filmes tem menos de duas horas. Menos mal que este seja o melhor deles...
# O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS (THE HOLIDAY)
EUA, 2006
Direção e roteiro: NANCY MEYERS
Fotografia: DEAN CUNDEY
Montagem: JOE HUTSHING
Música: HANS ZIMMER
Elenco: CAMERON DIAZ, KATE WINSLET, JUDE LAW, JACK BLACK, ELI WALLACH
Duração: 138 minutos
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