Críticas


QUEM VOCÊ PENSA QUE SOU

De: SAFFY NEBBOU
Com: JULIETTE BINOCHE, FRANÇOIS CIVIL, NICOLE GARCIA.
12.09.2019
Por Luiz Fernando Gallego
O filme se sustenta principalmente no desempenho maravilhoso de Juliette Binoche.

O título nacional não deve ser entendido como uma pergunta e nem muito menos uma “carteirada”: trata-se de um perfil falso no facebook. Se o tema não é exatamente novo, o recurso, utilizado por uma mulher de 50 anos, acrescenta a abordagem da dificuldade enfrentada por muitas com o passar do tempo: homens mais velhos com mulheres bem mais novas são mais bem assimilados há tempos, mas o inverso não o é frequentemente. E há outras situações que vão interessar mais ao enredo que é baseado num romance de 2016 escrito por Camille Laurens, autora desconhecida no Brasil.

Ter mais de um desenvolvimento, diverso do anterior, a partir de uma mesma situação de base, também não é nenhuma novidade, sendo impossível não lembrar outros filmes (ou os romances que lhes deram origem). Não citaremos quais nos ocorreram para não incorrer em spoiler. Basta dizer que a autora estreou com uma ficção que se desenvolvia no formato de uma “narrativa em abismo” (mise em abyme) e que este filme também ilude intencionalmente o espectador, surpreendendo com novas informações que surgirão gradativamente quase que o tempo todo. Não deixa de haver um certo clima de suspense que também pode reforçar a atenção da plateia ao longo do filme.

De qualquer modo, se alguns truques da narrativa funcionam bem, algumas outras situações podem soar menos verossímeis, como no caso de uma certa ingenuidade do jovem adulto que não desconfia que a mulher que se mantém inacessível para um encontro real - ao vivo e a cores - possa ser uma construção virtual fake. Mesmo assim, o que interessa é a necessidade desta mulher de viver para si própria a fascinação com a imagem idealizada e mais jovem que ela construiu. Neste sentido é que o filme se sustenta principalmente no desempenho maravilhoso de Juliette Binoche. A já famosa capacidade da atriz transmitir tantas emoções através de sua privilegiada mímica facial encontra uma oportunidade e tanto na ambivalência da personagem. Seus diálogos telefônicos com o homem jovem que ela (ou seu avatar) seduz(em) pela internet são muitas vezes mais expressivos por aquilo que o rosto de Juliette transmite do que pelas próprias linhas do roteiro. Ela encontra um bom parceiro no ator François Civil que também encarna de modo verossímil a tal ingenuidade necessária para o que a história quer contar, ainda que na vida, em geral, adultos mais jovens possam ser mais espertos para as trapaças virtuais do que usuários mais velhos - como seria o caso da personagem cinquentona de Binoche.

O diretor Safy Nebbou, inédito comercialmente no Brasil, apesar de já ter cinco longas anteriores no currículo, não escapa de muito uso do campo-e-contracampo nas sessões de terapia entre Claire (Juliette) e a médica vivida por Nicole Garcia, conseguindo algumas bonitas e significativas imagens eventualmente: como quando mostra Claire, sozinha ou não, espelhada em múltiplas superfícies, como que “duplicada” ou mesmo “multiplicada”. Ou fragmentada?

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