Críticas


DREAMGIRLS – EM BUSCA DE UM SONHO

De: BILL CONDON
Com: JAMIE FOXX, BEYONCÉ KNOWLES, EDDIE MURPHY, JENIFER HUDSON
17.02.2007
Por Marcelo Janot
PÁGINAS DA VIDA

Desde que recebeu oito indicações ao Oscar, Dreamgirls vem sendo equivocadamente tratado como um dos principais concorrentes da premiação deste ano. Na verdade, todas as indicações são em categorias secundárias, e o fato de ter ficado de fora na disputa por melhor filme, diretor, roteiro, ator e atriz o torna, isto sim, uma grande decepção pra quem esperava um melhor reconhecimento da Academia a este sucesso de bilheteria inspirado num musical da Broadway. Quem acompanha o cinema com uma visão menos marqueteira sabe que premiações como o Oscar podem iludir e ajudar na divulgação, mas não são garantia de qualidade. Logo, mesmo que Dreamgirls fosse o grande vencedor, ele jamais poderia ser considerado um bom filme.



O diretor Bill Condon, o mesmo de Deuses e Monstros, foi bastante eficaz como roteirista de Chicago, outro sucesso da Broadway adaptado por ele para as telas. Mas desta vez errou a mão. A história do grupo de cantoras negras e a ascensão de sua gravadora, nitidamente inspirada na trajetória das Supremes e da Motown, merecia bem mais que um script de folhetim, cheio de situações-clichê. Diversos pontos importantes são levantados e poderiam ser melhor abordados, como a antropofagia cultural que desde aquela época já fazia parte do jogo capitalista das gravadoras, com músicas sendo regravadas por artistas que pudessem vender mais. Mas Condon preferiu enveredar pelo rumo novelesco.



Faz parte da tradição dos musicais hollywoodianos que os atores comecem a cantar repentinamente no meio de uma cena, e que a letra da canção seja uma espécie de prolongamento do diálogo entre os personagens. Mas cabe ao diretor, ao roteirista ou ao coreógrafo acrescentar algum elemento cinematográfico que justifique a sua presença nas telas. Em Dreamgirls não há criatividade alguma nesse sentido, os números musicais são piegas e muitas vezes beiram a cafonice. Logo depois que Effie (Jennifer Hudson) recebe a notícia de que não será mais a vocalista principal do grupo, ela e o irmão (o fraquíssimo Keith Robinson) começam a cantar numa chorumela interpretativa que lembra até o videoclipe de Hello, do saudoso canastrão Lionel Ritchie.



Supõe-se que o momento em que Effie canta And I Am Telling You I´m Not Going seja uma espécie de clímax na encenação teatral de Dreamgirls na Broadway, quando ela, sozinha no palco, demonstra todo o seus dotes vocais alcançando aquelas notas altas e recebendo a ovação da platéia. No filme, como não há essa troca de energia entre artista e platéia, a distância imposta pelo celulóide torna a cena interminável, totalmente deslocada e insuportável.



As boas atuações de Eddie Murphy e Jennifer Hudson e a caprichada direção de arte não evitam a sensação de desperdício de tempo e dinheiro com um filme sobre a música soul em que falta, justamente, alma. Por uma dessas coincidências curiosas, Dreamgirls está sendo lançado ao mesmo tempo que Antônia, da brasileira Tata Amaral. São filmes sobre um grupo de cantoras negras em busca do sucesso, com óbvias diferenças geográficas e sociais, é claro. Mas em termos conceituais, ambos parecem filmes de produtor, em que o compromisso com a bilheteria é maior do que com a qualidade artística. Ao utilizarem diretores-roteiristas com reconhecida competência autoral, como Condon e Tata, desperdiçam seus talentos e justificam o fracasso (no caso de Antônia, não só artístico como de bilheteria também).



# DREAMGIRLS – EM BUSCA DE UM SONHO (DREAMGIRLS)

EUA, 2006

Direção e Roteiro: BILL CONDON

Produção: LAURENCE MARK

Fotografia: TOBIAS A. SCHLIESSER

Edição: VIRGINIA KATZ

Direção de Arte: TOMAS VOTH

Música: HENRY KRIEGER E TOM EYEN

Elenco: JAMIE FOXX, BEYONCÉ KNOWLES, EDDIE MURPHY, JENIFER HUDSON, DANNY GLOVER, ANIKA NONI ROSE, KEITH ROBINSON.

Duração: 130 min.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário