Críticas


O IRLANDÊS

De: MARTIN SCORSESE
Com: ROBERT DE NIRO, AL PACINO, JOE PESCI, STEPHEN GRAHAM
15.11.2019
Por Luiz Fernando Gallego
O maior interesse do filme está na força da máfia em aspectos da história política dos Estados Unidos.

Martin Scorsese volta a dirigir Robert De Niro e Joe Pesci, sendo a primeira vez que tem Al Pacino em um filme seu. Impossível deixar de ver. Mas as três horas e meia de O Irlandês pesam um pouco. Curiosamente, nem tanto perto do desfecho, mas a coisa custa a engrenar um pouco: afinal, os personagens são mesquinhos, odiosos, amorais, sociopatas e perversos a ponto da gente se perguntar o porquê de ficar vendo essa escória humana durante tanto tempo. Por outro lado, à medida que o filme se desenrola, a manipulação da máfia na história política estadunidense durante tantos anos acentua o interesse que o filme desperta e mantém, absorvendo nossa atenção ao longo da projeção.

Estão presentes eventualmente longos travellings em profundidade e planos-sequência que Scorsese usava mais frequentemente no passado (é inesquecível especialmente um plano-sequência incrível de Os Bons Companheiros) e, de modo geral, a direção é de um mestre, como se espera dele. Do mesmo modo, os desempenhos: é admirável a presença de Joe Pesci, tão marcante quanto discreta, low profile mesmo (depois de muita insistência por parte de Scorsese para tê-lo de volta, saindo de uma aposentadoria voluntária de quase uma década).

No extremo oposto, com um personagem bastante extrovertido, Al Pacino aproveita todas as oportunidades que o papel lhe oferece, ficando com maior destaque numa interpretação espetacular, a despeito de uma peruca um tanto estranha. De Niro faz o que a discrição do papel lhe pede, contrastando com o temperamento explosivo do personagem de Pacino nas várias cenas em que estão juntos. Efeitos especiais funcionam bem satisfatoriamente para cenas em que De Niro e Pesci precisam aparentar muito menos idade em flashbacks . Os demais atores estão todos muito bem, havendo mínimo interesse do roteiro pelas personagens femininas, todas em segundo ou terceiro plano de importância.

De qualquer modo, embora tudo o que se vê faça sentido para o desenvolvimento de um enredo que abarca décadas de história americana marginal (e suas ligações escusas com políticos poderosos), a metragem conseguida depois de um primeiro corte que chegava a quatro horas, reduzida em apenas 30 minutos, ainda exige do espectador um certo grau de empatia com personagens tão desagradáveis num ritmo mais pausado do que o cinema comercial atual vem nos impingindo e acostumando.

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