Um belo e jovem casal. Um quarto de motel. Uma câmera grudada em seus corpos. Com os ingredientes e as limitações de um filme pornô barato, Matías Bize fez um denso estudo do amor contemporâneo. Parte da nova e boa onda do cinema chileno, En la Cama foi comparado às caminhadas românticas de Richard Linklater, só que filmada, digamos, no ponto final. Mas isso é dizer muito pouco sobre um filme que tem luz própria.
Na Cama tem sido uma deliciosa surpresa por onde passa – inclusive no Cinesul 2006, onde ganhou o Prêmio da Crítica. A começar pela modernidade de sua proposta. No quarto exíguo, após a transa casual entre dois desconhecidos, eles conversam muito, como é de praxe nesses estranhos hiatos da vida. É quando surgem os jogos de identidade, a criação de expectativas, as manipulações. E as surpresas que só terminam junto com o filme. Entre momentos de intensa sensualidade e diálogos cheios de espírito, os dois amantes borram os limites entre a curtição descompromissada e a paixão impossível de controlar.
Matías Bize revela um estilo seguro, apto a abstrair as limitações do cenário único e exíguo. Com câmera na mão e cortes precisos, ele multiplica perspectivas e valoriza o rosto e o corpo dos atores como os verdadeiros “espaços” de sua ação. Ali o amor contemporâneo mostra sua cara. E vai deixando claro que, no fundo, o amor não tem idade, pois as armadilhas de sempre estão à espreita até na “ficada” mais fortuita.
Blanca Lewin e Gonzalo Valenzuela, nos únicos papéis, mostram-se capazes de desmentir a primeira impressão de banalidade e tornar o encontro cada vez mais complexo e matizado. Bons de se olhar, eles convertem nosso voyeurismo inicial em legítimo desejo de compreender o ser humano.
# NA CAMA (EN LA CAMA)
Chile/Alemanha, 2005
Direção: MATÍAS BIZE
Roteiro: JULIO ROJAS
Fotografia: CHRISTIÁN CASTRO, GABRIEL DÍAZ
Montagem: PAULA TALLONI
Elenco: BLANCA LEWIN, GONZALO VALENZUELA
Duração: 85 minutos
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