Críticas


BRASILEIRINHO – GRANDES ENCONTROS DO CHORO

De: MIKA KAURISMÄKI
Com: TRIO MADEIRA BRASIL, PAULO MOURA, YAMANDU COSTA
24.08.2007
Por Carlos Alberto Mattos
TEM FINLANDÊS NO CHORO

Mika Kaurismäki já tem uma longa história brasileira: dois filmes na Amazônia (The Amazon e Tigrero), dois documentários sobre música e até a criação de um bar-clube em Ipanema, o Mika’s, de vida curta. Quando mostrava seu longa Moro no Brasil (2002) em Lausanne, ele encontrou outro apreciador de música brasileira, o produtor suíço Marco Forster, que o estimulou a fazer um filme sobre o chorinho. Assim nasceu Brasileirinho – Grandes Encontros do Choro, dirigido por um finlandês e co-produzido por um suíço e um italiano (Bruno Stroppiana, há muitos anos radicado por aqui).



Surpreendentemente, não é um filme de gringo, embora tenha lá seus momentos de fascinação pelo bondinho de Santa Teresa. Brasileirinho está a meio caminho entre o doc musical e o registro de performances. No fundo, é o making of algo encenado de um show do dream team do chorinho contemporâneo no belo Teatro Municipal de Niterói. Começamos com a idéia nascendo entre os integrantes do Trio Madeira Brasil. Daí em diante, o mote vai se desfolhando em pequenos depoimentos, entrevistas, trechos de ensaios e, sobretudo, encontros.



Essa estrutura, leve e solta, acaba por realçar o chorinho como uma arte do encontro. Um chorão solitário é como um bebê abandonado. O chorão cresce no diálogo, na harmonia. Mika organiza encontros em almoço, pelada, aulas, ensaios, palcos, barca e até num curral, onde vacas e galos conversam com um trombone. Não há ênfase na informação didática – daí as poucas intervenções da narração soarem como nota fora do tom. Basta uma conversa como a de Marcos Suzano com os veteranos pandeiristas Jorginho e Celsinho Silva para se ter uma visão de como o gênero evoluiu da época de ouro ao chorinho moderno.



Não precisava mesmo de nenhuma preleção. A história do choro se desdobra com clareza, por exemplo, no intervalo entre o depoimento emocionado de Joel Nascimento (o maior chorão vivo, segundo Henrique Cazes) e a voracidade de Yamandu Costa ao violão de sete cordas. Ou na relação entre o paternal Zé da Velha e os meninos de Cordeiro (RJ). A diversidade do choro fica patente quando se contrapõe a preocupação harmônica de Zezé Gonzaga e a busca de Paulo Moura pelo “som rachadinho” no seu clarinete de acrílico.



Alguns dirão que esse é um doc para sair direto em DVD, tal a predominância das performances. Mas não é nada desprezível a oportunidade de ver na tela grande um elenco tão fabuloso, que ainda inclui Elza Soares, Guinga, Ademilde Fonseca e outros. A fotografia de Jacques Cheuiche faz jus ao cinema, onde é incomparável o impacto de duas cenas em especial: uma tomada estilo Soy Cuba que deixa a Lapa noturna, entra pela janela da Estudantina e circula entre os pares dançantes; e a “parceria” entre Yamandu Costa e a platéia no “hino” Carinhoso, outro encontro memorável presente em Brasileirinho.



O filme está chegando às salas brasileiras depois de ser apresentado no Festival de Berlim de 2005 e fazer carreira em vários países. Ou seja, os gringos já viram. Agora é a nossa vez, graças à tal primavera documental.



Visite o DocBlog do crítico.



BRASILEIRINHO – GRANDES ENCONTROS DO CHORO

Brasil/Suíça, 2005

Direção:
MIKA KAURISMÄKI

Roteiro: MARCO FORSTER, MIKA KAURISMÄKI

Produção: MARCO FORSTER, BRUNO STROPPIANA, MIKA KAURISMÄKI

Fotografia: JACQUES CHEUICHE, ABC

Montagem: KAREN HARLEY

Som direto: CRISTIANO MACIEL

Desenho de som: UWE DRESCH

Direção musical: MARCELLO GONÇALVES

Elenco: TRIO MADEIRA BRASIL, PAULO MOURA, YAMANDU COSTA, ZÉ DA VELHA E SILVÉRIO PONTES, JOEL NASCIMENTO, JORGINHO DO PANDEIRO, MARCOS SUZANO, MAURÍCIO CARRILHO, LUCIANA RABELLO, ELZA SOARES, GUINGA, TERESA CRISTINA E GRUPO SEMENTE, ZEZÉ GONZAGA, ADEMILDE FONSECA

Duração: 90 minutos

Site oficial: clique aqui

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário