Críticas


FESTIVAL DO RIO 2007: ANNA M.

De: MICHEL SPINOSA
Com: ISABELLE CARÉ, GILBERT MEKI, ANNE CONSIGNY
21.09.2007
Por João Mattos
BOA ATRIZ EM OBRA BANAL

Isabelle Caré não tem idade (36 anos), extensão de carreira (embora já tenha trabalhado em algumas dezenas de filmes, poucos ruins, só que poucos de grande impacto artístico e/ou comercial para chamar muito a atenção para ela), para ser considerada uma diva do cinema francês, daquelas veteranas e famosas. Tem porém uma carreira sólida e sóbria (só neste ano foram lançados no Brasil, Quatro Estrelas e Medos Privados em Lugares Públicos), e um bom time de atuações, a qual se junta a neste drama psicológico sobre a loucura causada pelo amor, ou uma noção torta dele.



Em certo momento deste Anna M, olhando direto para a câmera, num plano subjetivo, como se alguém estivesse recebendo o olhar e as palavras duras dela, Caré repete por segundos – talvez um minuto - a experiência do tour de force que fez em La Femme Deféndue (1997, no Brasil, só passou em TV por assinatura), no qual conquistou os primeiros elogios mais fortes. Ela fazia a jovem amante de um homem casado que passava quase todo o desenrolar da narrativa interagindo com a câmera subjetiva que simulava a visão subjetiva do cara. Na cena do presente filme (e estamos longe da conclusão da trama), Anna/Caré diz sobre o assédio – transformado em delírio e obsessão de muita periculosidade - que perpetuou sobre um médico que a tratou depois de um acidente: “Ninguém se feriu, ninguém se ofendeu”, o que claro, não é verdade, mas serve de metáfora involuntária para a fragilidade da obra.



Filme sobre o encanto instantâneo que vira alucinação, Anna M falha ao tentar cativar a platéia para sentir a pujança da demência da moça. Oscilando entre o rascunho do drama psicológico de terror, e o rascunho de drama sobre dilaceramento emocional, ele não tem de um lado, força narrativa capaz de empolgar, e de outro, densidade de articulação. Como não descamba para o sanguinário, nem convence com plenitude no âmago da dor que traria se fosse crível na tradução de um desespero íntimo, acaba cansando bastante, como se trouxesse apenas birra de uma solitária de mente alquebrada, que mais irrita do que amedronta ou provoca pena. O uso do scope proporciona alguns planos bonitos, como o desmaio assustador – bem mais do que qualquer coisa que ela faz depois - pelo deserto que está a biblioteca logo no começo do filme; a cena do atropelamento é ótima, e Caré, sem estar inesquecível, tem atuação perfeita: nem contida demais, nem super representando. Pouco para um filme dispensável.



# ANNA M (ANNA M)

França, 2007

Direção e roteiro:
MICHEL ESPINOSA

Elenco: ISABELLE CARÉ, GILBERT MEKI, ANNE CONSIGNY, GAËLLE BONA

Duração: 106 minutos

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