Críticas


11 DE SETEMBRO

De: SAMIRA MAKHMALBAF, CLAUDE LELOUCH, YOUSSEF CHAHINE, IDRISSA OUEDRAOGO, KEN LOACH, A. G. IÑARRITU, AMOS GITAI, DANIS TANOVIC, MIRA NAIR, SEAN PENN E SHOHEI IMAMURA
11.10.2002
Por Maria Silvia Camargo
TRAGÉDIA POUCA É BOBAGEM

Se os arqueólogos do futuro encontrarem uma cópia deste 11 de

Setembro, e o usarem para entender melhor como era o mundo no começo do século XXI terão certeza de que nós não tínhamos sido vítimas de uma só tragédia, mas compartilhávamos de várias. A maior parte dos diretores convidados a refletirem sobre a queda das torres gêmeas usa os 11 minutos, 9 segundos e 1 frame que o produtor Alain Brigand lhes destinou para falar da desgraça de seu próprio País, o que não é muito justo, mas, pelo menos, é real. Que perspectiva poderia nos dar, por exemplo, o diretor bósnio Danis Tanovic? seu segmento fala de uma parte das mil torres que caíram em seu País: o massacre de Srebrnica, realizado no dia 11 de Julho de 1995.



Tanovic não é o único que lembra da coincidência de um fatídico dia 11: o inglês Ken Loach centra sua narrativa no Chile, e recorda, com imagens de documentário, do fim da democracia naquele país e o assassinato de Allende em 11 de setembro de 1973. O diretor israelense Amos Gitai também mostra dois carros-bomba que teriam explodido em Tel-Aviv na mesma manhã, acontecimento que não consegue espaço na mídia. De todos estes três, Tanovic é o mais chique e menos pessoal, pois nos oferece a imagem de uma grande corrente de solidariedade mundial.



Os melhores episódios são, ou os mais ficcionais -­ como o da africana Idrissa Ouedraogo, do francês Claude Lelouch e o do americano Sean Penn - ­ ou os quase documentários - como os da iraniana Samira Makhmalbaf e da indiana Mira Nair. Idrissa, de Burkina Faso, fala com muito humor de uma turma de garotos que jura ter visto Bin Laden perto deles, e quer capturá-lo. "Bin Laden, volte!", imploram os garotos. Lelouch é simples, preciso e eficaz no relato de um desencontro amoroso na manhã da tragédia. Já Sean Penn nos traz uma história emocionante: um viúvo (Ernest Borgnine), cujo apartamento fica na sombra das torres gêmeas, está tão envolvido com a perda de sua esposa que não consegue se dar conta do que acontece no seu entorno.



Tirando partido da realidade, Samira Makhmalbaf fez um episódio de patética beleza, em que uma professora iraniana de um campo de refugiados afegãos tenta transmitir aos seus pequenos alunos o que aconteceu. Mira Nair escolheu recriar uma impressionante história real sobre um cidadão americano de pais mulçumanos.



O japonês Shohei Imamura, o egípcio Youssef Chahine e o mexicano A. G. Iñarritu (de Amores Brutos ) nos proporcionam os piores momentos do filme, com destaque ­com louvor para a irritante experiência adolescente de Iñarritu, que alterna as manjadas imagens das torres caindo com a tela em branco ou totalmente preta - e muito barulho. Nem um estudante de primeiro período de cinema conseguiria ser tão pouco criativo.



# 11 DE SETEMBRO (11’09’’01)

França, 2002

Direção: SAMIRA MAKHMALBAF, CLAUDE LELOUCH, YOUSSEF CHAHINE, IDRISSA OUEDRAOGO, KEN LOACH, A. G. IÑARRITU, AMOS GITAI, DANIS TANOVIC, MIRA NAIR, SEAN PENN e SHOHEI IMAMURA

Duração: 135 min.

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