Críticas


NINHO VAZIO

De: DANIEL BURMAN
Com: CECILIA ROTH, OSCAR MARTÍNEZ, INES ÉFRON, CARLOS BERMEJO.
30.01.2009
Por Leonardo Luiz Ferreira
ENCRUZILHADA

Lucrecia Martel (O Pântano), Pablo Trapero e Daniel Burman são os principais realizadores de uma nova geração surgida na Argentina no fim dos anos 90. Apesar de raras exceções, como o cinema comercial de Eliseo Subiela (Hombre Mirando Al Sudeste) e a longeva carreira de Adolfo Aristarain (Lugares Comuns), o país necessitava de uma renovação em busca de estabelecer sua identidade por intermédio do cinema. E isso acontece, em 1998, com Pizza, Birra, Faso, de Adrián Caetano e Bruno Stagnaro, em que se registra um grupo de deliquentes em uma decadente Buenos Aires. É um filme com muitos problemas na realização, mas se tornou um marco de mudança, que se firmou com Mundo Grúa, de Trapero. Este um longa que já demonstra as preocupações temáticas e estéticas do realizador que atingiu a maturidade com Leonera (2008). Desse período em diante, a produção argentina foi constante e com uma variedade tanto de gênero quanto de temas – tendo especial direcionamento para questões de família e a crise econômica.



Burman é um cineasta que desde o princípio foi trilhando um caminho particular que transita entre a comédia e o drama, com o objetivo de destilar as suas obsessões: os personagens principais de seus filmes são uma extensão do realizador. Este é um dos motivos para a comparação de seu trabalho com a do veterano Woody Allen, que Daniel, em mais de uma ocasião, afirmou ser uma de suas influências na composição dos tipos neuróticos que perpassam suas narrativas, que tem como centro uma busca interior ligada a questão da identidade em uma metrópole da América do Sul.



Após abordar a crise de um homem na casa dos 30 (As Leis de Família), o diretor foca em Ninho Vazio em um escritor bem-sucedido, na faixa dos 50 anos, que atravessa uma crise criativa e em seu relacionamento. Já nos primeiros planos isso se delineia com a total ausência mental do romancista em um jantar entre amigos de sua esposa: o olhar de Leonardo permanece alheio às relações frugais e passa a notar apenas uma mulher no restaurante. Há um pequeno corte já para dentro do carro no retorno ao lar e percebe-se a distância do casal. Porém, a preocupação de Burman não está em estabelecer a fissura da relação pelo viés do choque e sim através da perspectiva masculina – uma das características de seu trabalho.



Ninho Vazio parte de uma premissa interessante na qual um escritor forja um mundo ficcional para conseguir voltar à realidade. Ainda que pouco explorado, esse caráter metalinguístico é a essência da proposta autoral do roteiro, que foi escrito pelo próprio cineasta. Este peca exatamente na transposição para a tela: Ninho Vazio é mais um exemplo de que o script literário tem que receber um tratamento à altura durante o processo de filmagem. O que muitas vezes parece funcionar no papel acaba não se configurando na tela com o mesmo apelo. Mesmo que o diretor mantenha a usual despretensão na maneira de narrar nada justifica esse desleixo na construção de imagens, sobretudo, com relação ao estado lúdico de seu personagem em que toda tentativa onírica passa despercebida pelo espectador ou pela falta de esmero da proposta ou pela rapidez na junção de sequências.



A direção de câmera segue uma certa linha de drama familiar que acredita na aproximação do espectador com os conflitos do personagem em planos colados nos rostos, como se a intimidade brotasse desse contato. Em contrapartida, mantém-se um clima seco e vagaroso para o timing cômico, que dificilmente arrebata, assim como o acerto de contas com si próprio do romancista Leonardo, que se revela um mero gimmick de roteirista.



Ninho Vazio representa uma encruzilhada para Daniel Burman que parece dar sinais de esgotamento e consequentemente de interesse por seu trabalho. Afinal, pode-se fazer o mesmo a vida toda, mas que o faça bem.



# NINHO VAZIO (EL NIDO VACÍO)

Argentina, 2008

Direção e Roteiro: DANIEL BURMAN

Fotografia: HUGO COLACE

Edição: ALEJANDRO BRODERSOHN

Elenco: CECILIA ROTH, OSCAR MARTÍNEZ, INES ÉFRON, CARLOS BERMEJO.

Duração: 91 minutos

Site oficialhttp://www.elnidovacio.com/

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