Críticas


DÍVIDA DE SANGUE

De: CLINT EASTWOOD
Com: CLINT EASTWOOD, JEFF DANIELS, WANDA DE JESUS, TINA LIFFORD
11.11.2002
Por Fernando Albagli
O ORGULHO DO DIRETOR ULTRAPASSA A VAIDADE DO INTÉRPRETE

Ao contrário de outros heróis de filmes de ação, Clint Eastwood não pretende ser um eterno super-homem. Admite a idade e, inteligentemente, procura histórias em que possa explorá-la. Em Cowboys do Espaço, fazia parte de um grupo de astronautas aposentados. Em Poder Absoluto, acusado de subir por uma corda a um andar superior, disse que "essa tenho que contar na próxima reunião de veteranos". Neste Dívida de Sangue (Blood Work), apesar do personagem ter 46 anos no romance de Michael Connolly, em que o filme se baseia, Eastwood sentiu que ele tinha tudo para adaptá-lo bem aos seus 72.



Logo no início, o agente do FBI Terry McCaleb (Eastwood) corre atrás de um serial killer, mas não agüenta o esforço e desmaia com um ataque cardíaco. Dois anos depois, aposentado, ele vive tranqüilamente num barco ancorado numa marina de Los Angeles. E com o coração de outra pessoa, que lhe fora transplantado dois meses antes. Uma mulher – Graciela Rivers (De Jesus) – o procura e lhe pede que investigue o assassinato de sua irmã e prenda o culpado. Ele não quer aceitar a incumbência. Não é mais um policial. Mas ela o convence, revelando-lhe que o coração da irmã é o que está batendo agora em seu peito. Não adiantam as broncas da Dra. Bonnie Fox (Huston) que o acompanha como cardiologista. Depois que ele conhece o filho da vítima, não tem mais escolha.



Enquanto trabalha procurando pistas, para não fazer grandes esforços, McCaleb contrata Buddy Noone (Daniels), um vizinho de marina, como seu assistente. Começa as investigações ajudado por uma xerife negra (Lifford) e atrapalhado por um policial (Rodriguez). O ex-agente se aproxima, cada vez mais, de Graciela e do menino. Daí em diante, bastante previsível mas com o charme e o carisma do diretor-intérprete, o filme segue três vertentes que a todo momento se entrelaçam: a perseguição ao serial killer, a saúde de McCaleb, que leva sempre a mão ao peito como para se certificar de que a "máquina" está funcionando, e a construção dos relacionamentos.



O interesse do público por McCaleb não é apenas a admiração e a torcida pelo herói, mas a simpatia que ele desperta como um ser humano igual a todos nós, com suas dúvidas, erros e mazelas – chega a engolir 34 comprimidos por dia. Envelhecendo, Eastwood, que ainda jovem já economizava em expressões dramáticas, torna-se cada vez mais avarento quanto a elas. Assim como o envelhecido Paul Newman em Estrada para Perdição. Mas nos transmite toda a angústia dos que sentem fugir os recursos físicos nos momentos cruciais.



Como Woody Allen, Clint Eastwood conhece muito bem sua persona cinematográfica. Sabe lidar com ela. Já se dirigiu em mais de vinte filmes. O orgulho do diretor ultrapassa a vaidade do intérprete. No entanto, apesar do prazer em se assistir a um thriller que parece uma relíquia do passado, sem mirabolantes pirotecnias nem jovens que se destacaram em seriados de televisão, há uma falta de ritmo que provoca vazios na narrativa e não deve ser confundida com o andamento clássico dos antigos filmes do noir.



Esperamos que não seja envelhecimento também do diretor. Eastwood tem crédito a seu favor. É aguardar o próximo.



DÍVIDA DE SANGUE (BLOOD WORK)

EUA, 2002

Direção e Produção: CLINT EASTWOOD

Roteiro: BRIAN HELGELAND

Fotografia: TOM STERN

Montagem: JOEL COX

Música: LENNIE NIEHAUS

Design de Produção: HENRY BUMSTEAD

Direção de arte: JACK G. TAYLOR JR.

Elenco: CLINT EASTWOOD, JEFF DANIELS, WANDA DE JESUS, TINA LIFFORD, PAUL RODRIGUEZ, DYLAN WALSH, ANJELICA HUSTON.

Duração: 111 minutos

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