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GUARDA-CHUVAS DO AMOR, OS

25.11.2002
Por Ricardo Cota
INCOMUM E INIMITÁVEL

Em 1964, Os Guarda-Chuvas do Amor, de Jacques Demy, saiu consagrado do Festival de Cannes com a Palma de Ouro. Discutida hoje, quatro décadas depois, a premiação pode parecer exagero, ainda mais quando se sabe que no mesmo ano competiram dois pesos-pesados brasileiros: Vidas Secas e Deus e o Diabo na Terra do Sol. Mas será mesmo?



Apesar do seu caráter peculiar, Os Guarda-Chuvas do Amor é um rebento da nouvelle vague, movimento cinematográfico que se alastrou da França para o resto do mundo. Demy podia não ser o mais brilhante da turma mas estava integrado ao grupo de jovens cineastas que levaram às telas suas idéias e propostas, numa releitura ousada do neo-realismo.



Em meio à ousadia de seus pares, preocupados em renovar a linguagem e flagrar temas de relevância social, Demy optou por uma linha original, reciclando um gênero então mergulhado na decadência – o filme musical. Os Guarda-Chuvas do Amor adapta os princípios da nouvelle vague a um musical melancólico.



Geneviève (Catherine Deneuve) é uma jovem que se apaixona pelo mecânico Guy (Nino Castelnuovo). O namoro sofre a intervenção da mãe (Anne Vernon), uma senhora endividada que deseja ver a filha nos braços de um homem rico. As pressões e a partida de Guy para servir na Argélia acabam tornando a separação inevitável. A estrutura do filme deve muito às tradicionais operetas.



Michel Legrand assumiu a responsabilidade de compor a belíssima trilha sonora em que até mesmo os diálogos são musicados. Ao cenógrafo Bernard Evein coube a tarefa de criar um clima de fantasia pontuado de cores fortes e contrastantes. A atmosfera, que seria definida pela crítica como “neo-realista-poética”, remete à experiência de Jacques Demy como técnico de animação. Tudo isso sem contar o esplendor de Catherine Deneuve aos 20 anos de idade.



Na ótima versão em DVD, lançada pela Versátil Home Video e disponível nas bancas de jornais a preço convidativo, o espectador é brindado com o inventivo trailer, uma brincadeira charmosa com a história do cinema que mostra três versões de uma mesma seqüência do filme: sem diálogos, com diálogos e, como na versão final, com diálogos musicados.



Os Guarda-Chuvas do Amor é um filme incomum e inimitável. Tanto é que o próprio Jacques Demy tentou repetir a fórmula em Duas Garotas Românticas, de 1968, sem o mesmo êxito. Pouco importa. Àquela altura, Cannes já havia consagrado à condição de obra-prima o instante único e mágico dos amantes de Cherbourg.



# OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR (LES PARAPLUIES DE CHERBOURG)

França, 1964

Direção e roteiro: JACQUES DEMY

Fotografia: JEAN RABIER

Elenco: CATHERINE DENEUVE, NINO CASTELNUOVO

Duração: 90 minutos

Região do DVD: All NTSC

Legenda: Português

Idioma: Francês(Dolby Digital Mono 2.0)

Extras: Menus interativos, Seleção de cenas, Trailer de cinema, Biografias, Filmografias

Distribuição: Editora Jornal do Vídeo Ltda.

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