Críticas


PECADO DA CARNE

De: HAIM TABAKMAN
Com: ZOHAR SHTRAUSS, RAN DANKER, TINKERBELL, TZAHI GRAD, ISAAC SHARRY
06.04.2010
Por Nelson Hoineff
DOURADOS SÃO OS OUTROS

Ser gay hostilizado por Dourado é mole. A má notícia é que o mundo não é a gaiola do Big Brother - e que os Dourados de verdade estão em preceitos religiosos, em sociedades que são moldadas por eles e em milícias que matam e morrem para defender esses valores.



Não é de se estranhar, portanto, que o cinema israelense, um dos mais arejados do mundo, tenha se voltado com freqüência para o exame da questão gay. Quase sempre com a densidade que não cabe nos limites intelectuais de um reality show. Foi assim em Yossi & Jager (Delicada Relação), de Eithan Fuchs, que conta a história de amor entre dois soldados em luta na fronteira do Líbano e recebeu, em 2003, o prêmio de melhor produção original da Academia de Televisão e Cinema de Israel, o Oscar de melhor filme local.



Em Antarctica (2008), de Yair Hochner, uma comédia sobre gays e lésbicas em comunidades ortodoxas de Israel, parceiros masculinos despem-se mutuamente e beijam-se agressivamente em preparação para o sexo.



O magnífico e controverso documentário Trembling Before G-d, de Sandi Simcha DuBowski, exibido em Sundance e em Berlim, contém algumas das mais ousadas cenas que me lembro de ter visto. O objeto do documentário é o homossexualismo entre rabinos de comunidades ortodoxas ou não, e lá estão depoimentos como o do Rabino Steven Greenberg, o primeiro rabino ortodoxo assumidamente gay, que discute em detalhes as contradições entre ser profundamente religioso e ainda assim homossexual.



The Bubble, também de Eithan Fox, já exibido no Brasil, é mais “light”, mas tem no seu núcleo uma história de amor entre três israelenses e um palestino.



Isso para não falar nos filmes, digamos, menos sutis. Em Inside Israel, filme pornô que fantasia tropas israelenses em cenas homoeróticas, o astro principal é o brasileiro Carlos Caballero.



Pecado da Carne fala da paixão entre um açougueiro casado e um estudante de 22 anos, que no caminho para a Yeshivá, escola religiosa, acaba se tornando seu ajudante. O filme é ambientado numa comunidade ortodoxa no inverno de Jersusalém e os tons cinzentos são uma clara metáfora à sensação crescente entre muitos israelenses de se verem dominados pela intolerância religiosa.



Olhos bem Abertos, o título original, remete mais aos cuidados da dupla com a intolerância do que a conflitos religiosos. Ambos, em especial o açougueiro Aaron, são praticantes e ortodoxos; e nas salas de estudos, não há menção à afronta a Deus por seus atos. Os dois amantes não têm dúvidas de que estão agindo como suas consciências determinam. “Eu estava morto. Com ele, estou vivo de novo”, confessa Aaron para o perplexo rabino. Os conflitos surgem entre Aaron e sua mulher e sobretudo entre os amantes e as milícias religiosas que querem banir o menino do local.



Haim Tabakman, estreante na direção de longas-metragens, sofre para manter o tom que a história exige – e só consegue isso parcialmente. Seu elenco é fraco e o resultado de algumas seqüências – como a expulsão dos milicianos pelo rabino local – é quase amadoristico. Ainda assim, um frame de seu filme é melhor para os neurônios que toda a vida dos Dourados que servem, todos os anos, de instrumento sistemático para descerebrar os brasileiros.



# PECADO DA CARNE (Einaym Pkuhot)

Israel/Alemanha/França, 2009

Direção: Haim Tabakman

Roteiro: Merav Doster

Fotografia:Axel Schneppat

Edição:Dov Stoyer

Música: Nathaniel Mechaly

Elenco:Zohar Shtrauss, Ran Danker, Tinkerbell,Tzahi Grad , Isaac Sharry Duração: 91minutos

Site oficial:http://www.hautetcourt.com/fiche.php?pkfilms=156

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