Algumas características sobressaem ao longo da projeção de 5 X Favela – Agora por Nós Mesmos , projeto coletivo coordenado por Carlos Diegues a partir do primeiro 5 X Favela , de 1962, que reuniu curtas-metragens realizados por Leon Hirszman (a quem este novo filme é dedicado), Joaquim Pedro de Andrade, Miguel Borges, Marcos Farias e pelo próprio Diegues: o otimismo (ou talvez mais adequado seria dizer a idealização) presente em boa parte dos curtas, seja ao louvarem a convivência festiva na favela, seja ao ressaltarem a boa índole de personagens nada abastados economicamente que lutam por oportunidade; e o excelente trabalho dos atores, em especial no que se refere ao elenco masculino (com destaque para Silvio Guindane, Gregório Duvivier, Flavio Bauraqui, Feijão, Thiago Martins, Marcio Vito e os atores mirins de Arroz com Feijão ).
O curta que abre 5 X Favela , longa que venceu recentemente o 3º Festival de Paulínia, é Fonte de Renda , assinado por Manaíra Carneiro e Wagner Novais, que aborda o empenho de um rapaz morador da periferia em entrar para a universidade. Ele consegue, mas não tem dinheiro para o transporte. Para resolver a situação, passa a levar drogas para os colegas de faculdade. Os diretores tomam cuidado para não vilanizar o personagem rico, mas acabam canonizando o protagonista pobre, mesmo que os métodos empregados por ele para resolver seu drama financeiro não sejam ortodoxos. O clímax, envolvendo o irmão mais novo do personagem principal, é quase antecipado pelo momento em que a câmera o mostra dormindo perto do lugar onde o mais velho guarda a droga. E o desfecho desse curta, valorizado pelas atuações de Guindane e Duvivier, soa um tanto burocrático.
Tudo funciona bem no segundo curta, Arroz com Feijão , de Rodrigo Felha e Cacau Amaral, que, como o anterior, capta algo bem brasileiro: a necessidade de se virar para conseguir aquilo que se almeja. Os diretores mostram o empenho de dois garotos em comprar um frango para o pai de um deles, que não aguenta mais comer arroz com feijão todos os dias. O terceiro, Concerto para Violino , se destaca dos demais pelo desfecho trágico. O diretor Luciano Vidigal se vale de um recurso conhecido ao entrelaçar passado e presente de seus três protagonistas, amigos que tomaram rumos diferentes na vida e se reencontram numa situação-limite. Há algo de repetitivo no mote desse curta potencializado, como os demais, pelo bom trabalho dos atores (preparação de elenco a cargo de Camilla Amado). Cadu Barcellos acerta na condução do quarto e melhor curta, Deixa Voar , ao apostar na possibilidade de integração entre moradores de comunidades rivais a partir de um incidente com uma pipa. E Luciana Bezerra, apesar de exagerar um pouco na disposição festiva de seus personagens, também soma pontos com Acende a Luz , no qual aborda a determinação de um grupo de moradores do Vidigal em não deixar o técnico sair antes de ver resolvido o blecaute em pleno Natal.
# 5 X FAVELA – AGORA POR NÓS MESMOS
Brasil, 2009
Direção: MANAÍRA CARNEIRO, WAGNER NOVAIS, RODRIGO FELHA, CACAU AMARAL, LUCIANO VIDIGAL, CADU BARCELLOS, LUCIANA BEZERRA
Coordenação de Roteiros: RAFAEL DRAGAUD
Produção: CARLOS DIEGUES, RENATA ALMEIDA MAGALHÃES
Fotografia: ALEXANDRE RAMOS
Montagem: QUITO RIBEIRO
Direção de Arte: PEDRO PAULO DE SOUZA, RAFAEL CABEÇA
Figurino: INÊS SALGADO
Trilha Sonora: GUTO GRAÇA MELLO
Elenco: SILVIO GUINDANE, FLAVIO BARAQUI, SAMUEL DE ASSIS, MARCIO VITO, DILA GUERRA
Duração: 103 minutos