Críticas


FESTIVAL DO RIO 2010 – MOSTRA PANORAMA DO CINEMA MUNDIAL

De: VÁRIOS DIRETORES
Com: VÁRIOS INTÉRPRETES
02.10.2010
Por Críticos.com.br
MOSTRA PANORAMA - FESTIVAL DO RIO 2010

SOMEWHERE (Somewhere)



de Sofia Coppola.



Estados Unidos, 2010. 98min.



por Luiz Fernando Gallego



Ao longo dos anos 1960, quando alguns filmes de diretores menos inspirados tentavam imitar as obras de Antonioni sobre a incomunicabilidade ou o tédio de uma elite existencial e socialmente aprisionada em seu próprio umbigo e sem perspectivas, algum crítico escreveu que “filmes sobre o tédio não precisam ser entediantes”.



Sofia Coppola precisava aprender essa lição. Somewhere (que aparentemente vai ser lançado no Brasil com o título Qualquer Lugar), incrivelmente premiado com o Leão de Ouro do Festival de Veneza deste ano, pretende demonstrar (tautologicamente) a vida “vazia” de um astro de cinema. Para isso, carrega a mão nos “tempos mortos” que Antonioni inaugurou há meio século. As tomadas longas de cenas esticadas sublinham o pouco que Sofia tem a dizer - e de modo exaustivo. As cenas podem ser até mesmo ser repetitivas, tal como no caso das dançarinas gêmeas que fazem “pole dance” particular para o ator e seu tédio por conta de um braço engessado.



O sucesso profissional deste sujeito implica em um dia-a-dia de compromissos definidos pela agenda de sua assessora, sendo ele não mais do que uma espécie de resultado – ou “produto” - de uma programação que escapa ao que seria sua iniciativa – que parece ser nenhuma. A tudo se submete sem demonstrar interesse. Ou desinteresse. Parece um “produto” robotizado. Para deixar isso bem claro, muito claro, didaticamente claro, Sofia Coppola encena tudo de forma que vai ficando tão robotizada quanto.



O que esse sujeito deseja, além de contratar gêmeas para assistir “pole dance” particular no quarto de hotel onde está morando, o famoso “Chateau Marmont” de Los Angeles? Sexo casual, claro, não faltando quem se ofereça para ele ou que ele conquiste sem nenhum esforço: afinal é jovial, tem boa aparência e, acima de tudo, é famoso. Festinhas? Não parecem interessá-lo. Ler, ver filmes, nem pensar...



O único elemento que “fere” essa rotina alienada e alienante é a presença eventual de sua filha de onze anos que reside com a mãe. Uma súbita necessidade da mãe “dar um tempo” (para que? em quem? na filha?) faz com que ele precise estar com a menina-moça por alguns dias, mais do que em um comum “fim-de-semana com o pai”. E apenas pelos dias antes da garota começar uma colônia de férias.



Sem nenhuma criatividade mínima a acrescentar e sem nenhuma contribuição nova para o tema da “vida vazia" de um "famoso", assunto evidente nos primeiros dez ou quinze minutos de filme e que se esgota logo em seguida, Sofia Coppola estica as cenas, a ponto de quase se poder pensar que o faz para atingir a metragem habitual de hora e quarenta de filme. Não dá para acreditar que ela acredite que esteja desenvolvendo alguma coisa sobre esta versão masculina de sua “Maria Antonieta” igualmente aprisionada em uma rotina de tédio e de “far niente” nem tão “dolce” assim.



Tal como no raso roteiro, apenas a participação de Elle Fanning como a filha do astro fere o tédio que é o próprio filme e sustenta algum interesse nesse mar de previsibilidade e pretensão que resulta em uma obra tão ou mais vazia do que o que pretende retratar.



Panorama do Cinema Mundial - (LEP) - 12 anos



SEX (1/10) 24:00 Odeon Petrobras [OD035]



SAB (2/10) 19:50 Est Barra Point 1 [BP144]



DOM (3/10) 12:00 Estação Botafogo 1 [EB162]



DOM (3/10) 18:00 Estação Botafogo 1 [EB165]



SEG (4/10) 13:10 Est Vivo Gávea 5 [GV551]



SEG (4/10) 19:40 Est Vivo Gávea 5 [GV554]



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Destricted.br



de: Adriana Varejão, Janaína Tschäpe, Julião Sarmento, Lula Buarque de Hollanda, Marcos Chaves, Miguel Rio Branco, Tunga.



Brasil, 2010. 91min.



por Nelson Hoineff



Se todo mundo conhecesse a vida sexual de todo mundo, ninguém se cumprimentava. A frase, de Nelson Rodrigues, aponta para o vetor do mistério sem o qual o sexo seria, para dizer o mínimo, desinteressante. A “plataforma” (seria melhor o projeto) Destricted, criada em 2004 por Neville Wakefield, curador do PS1, ligado ao MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), encoraja o que seus criadores definem como “a expressão irrestrita do sexo pela arte”. Destricted.br é a versão brasileira do projeto que, na sua origem, reuniu diretores como Larry Clark, Marina Abramovic e Gaspar Noé, um conjunto de curta-metragens realizados em sua maioria por artistas plásticos brasileiros com esse ponto de partida. A obra está “em progresso” porque ainda há dois curtas, talvez três, a serem realizados. O filme exibido no Festival do Rio 2010 reune sete deles, cinco realizados por artistas plásticos brasileiros, um por um produtor e diretor de cinema (Lula Buarque de Hollanda), outro pelo português Julião Sarmento.



São curtas desiguais, alguns pretensiosos como a obra dos artistas que os assinam. O mais surpreendente é a culpa que envolve a maioria. Tratam de sexo explícito com um peso que faria inveja a um cardeal. Há talvez duas exceções de caráter formal. Um está no curta de Miguel Rio Branco, extraordinário fotógrafo, aqui voltado para a contemplação imagética oriental, que está em sintonia com o retrospecto do realizador. Outra, no trabalho de Janaina Tschape, que filma uma simples relação de uma prostituta com três parceiros através do ponto de vista da mulher.



Tschape é o melhor exemplo. Talvez haja, no que filmou, um bom material para alguma instalação que às imagens agregará muitas outras coisas. É difícil imaginar, contudo, a que servirá, por exemplo, a base escatológica levantada por Tunga, que parece defasar Pasolini em 30 anos. Tudo parece fora do lugar, mas sobretudo muito antigo, constrangedoramente antigo, como se a internet estivesse por ser inventada. Não há razão palpável para que, no século 21, um conjunto de curtas com essa temática, empacotado como um filme, seja capaz de despertar interesse outro que museológico. Perto de Destricted.br, Zéfiro é pós-moderno.



Panorama do Cinema Mundial - (LI) - 18 anos



SAB (2/10) 19:15 Odeon Petrobras [OD038]



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CÓPIA FIEL (Copie Conforme)



de Abbas Kiarostami.



França / Itália, 2010. 106min.



Por Luiz Fernando Gallego



Em seu primeiro filme realizado fora do Irã, Kiarostami recorre ao talento extraordinário de Juliette Binoche, peça essencial no jogo de ambivalências e pistas em aberto de seu roteiro. Partindo de uma discussão sobre o valor das cópias em relação às obras de arte originais, o filme passa para uma representação do relacionamento entre a personagem de Juliette e o do barítono inglês (estreando como ator) William Shimell: eles foram casados? São casados? Ou estão fazendo uma “cópia fiel” de uma relação desgastada? A cópia, se cópia for, é fiel ou infiel? Um “psicodrama”? Eles mudaram ou são sempre os mesmos, cópias de si-mesmos que não arredam o pé de onde estão e semrpe estiveram?



Além de repetir aspectos frequentes em tantos filmes do cineasta, tal como, dentre outros, a conversação entre os personagens durante um percurso de automóvel, cabe questionar uma certa autocomplacência do diretor e deste seu filme: o quanto esta obra é “aberta”? Aberta em excesso? Algo afetada? A indefinição intencional do que se passou – ou não -, está se passando - ou não - entre aquele homem e aquela mulher não acaba sendo uma espécie de “saída fácil”, um truque intelectualizado de abrir tantos caminhos sem assumir nenhum? Uma espécie de “Jogo de Cena” ficcional cujo esteio é a interpretação irretocável de Juliette Binoche, premiada no Festival de Cannes 2010. Sem ela, o que seria do filme? Talvez um quebra-cabeça intelectual realizado com extrema elegância e uma certa frieza sobre os estágios do relacionamento conjugal.



Mas paralelamente a tanta intelectualização, não seria, por outro lado, óbvio demais levar a ação (ou os diálogos) para uma cidadezinha apresentada como “cidade dos casamentos” e enfocar um casalzinho recém-casados e outro idoso, periféricos à meia-idade dos personagens centrais?



Entre afetação e traços de banalidade, Kiarostami continuará a ser idolatrado pelos seus exegetas e a desconcertar o público com seus circunlóquios mais ou menos bem sucedidos.



Panorama do Cinema Mundial - (LP) - 14 anos



SAB (2/10) 15:50 Estação Botafogo 1 [EB157]



SAB (2/10) 21:50 Estação Botafogo 1 [EB160]



QUI (7/10) 13:20 Estação Ipanema 2 [IP266]



QUI (7/10) 17:20 Estação Ipanema 1 [IP168]



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MEMÓRIAS DE XANGAI (Hai Shang Chuan Qi)



de Jia Zhang-ke. China, 2010. 138 min



por CARLOS ALBERTO MATTOS



Jia Zhang-Ke deixa de lado os dilemas da contemporaneidade chinesa e faz seu mergulho na história de Xangai dos anos 1930 aos dias atuais. Um mergulho baseado principalmente nas memórias de 18 pessoas que vivem ou viveram na mais dinâmica cidade da China. São histórias de famílias, perdas, revoluções e reinvenções de identidade, contadas em depoimentos relativamente convencionais. A câmera de Yu Likwai comporta-se como em outros filmes de Zhang-Ke, desenhando panorâmicas lentas em frente aos entrevistados ou enquadrando-os através de vidros, esquadrias etc.



Há curiosidades compensadoras, como a de uma operária-padrão do maoísmo que virou personagem de cinema e conta sua emoção ao deparar-se frente a frente com o Chairman Mao. Ou a do homem que relata sua transformação em especulador de seguros na Xangai neocapitalista. O filme tem até o seu momento-Coutinho, com um personagem que canta a canção-título I Wish I Knew, importante para o seu passado numa Xangai internacionalizada. O elenco inclui gente de cinema, como o diretor Hou Hsiao-Hsien, a atriz-cantora Rebecca Pan e um assistente de Antonioni nas filmagens de Chung Ko, que ganhou reputação de traidor por ter ajudado a revelar o lado feio da China nos anos 1970. Nesse time, faz falta Wong Kar-Wai, um xangainês de nascimento.



O problema é que a maior parte das falas são longas e frequentemente recheadas de detalhes desinteressantes para os não-iniciados na atribulada história da cidade. A sucessão de depoimentos torna o filme pesado e alongado (são 138 minutos), com poucos respiros para a inclusão de um ralo material de arquivo, algumas cenas de filmes e as belas – mas frequentemente vazias – imagens da Xangai atual, dos velhos hutongs (becos) à futurista mega-arquitetura do Pudong. Mais vazio ainda é o recurso a uma personagem ficcional que vagueia como um fantasma pela cidade, introduzindo um clima mais fashion que propriamente metafísico, como parece ter sido a intenção.



A teatralização do real, proposta central na filmografia de Jia Zhang-Ke, tem aqui um capítulo menos feliz.



Panorama do Cinema Mundial - (LEP) - 12 anos



QUI (30/9) 22:00 Est Barra Point 2 [BP235]



SEX (1/10) 15:00 Est Vivo Gávea 5 [GV537]



SEX (1/10) 21:40 Est Vivo Gávea 5 [GV540]



SAB (2/10) 14:15 Espaço de Cinema 2 [EC250]



SAB (2/10) 18:45 Espaço de Cinema 2 [EC252]



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NOSTALGIA DA LUZ (Nostalgia de la luz)



de Patricio Guzman.



França / Chile, 2010. 90min.



por Luiz Fernando Gallego



Em ritmo pausado, o espectador é apresentado a diferentes atividades que se desenvolvem no deserto de Atacama, Chile: há observatórios para astrônomos explorarem estrelas que podem estar sendo vistas milhares de anos depois de sua extinção (ali, tudo é mais visível pela transparência do céu no local); arqueólogos pesquisam múmias de antes da descoberta das Américas, muito preservadas devido à extrema baixa umidade da região; e um grupo de novas “antígonas” tentam encontrar restos mortais de “desaparecidos” durante a sangrenta ditadura de Pinochet que, neste mesmo deserto, manteve um campo de concentração de presos políticos e espalhou os corpos dos torturados e assassinados.



Dos “corpos celestes” aos corpos humanos, o que “costura” a reflexão deste admirável documentário (por incrível que pareça, poético), de Patrício Guzman, é a noção de tempo: o presente só existe como constructo mental interiorizado, dizem seus entrevistados, astrônomos e arqueólogos; o que existe mesmo é o passado: se o das estrelas e o das múmias é muito bem pesquisado, o passado mais recente do Chile está bloqueado, recalcado, denegado.



Mas as mães, viúvas e irmãs dos “desaparecidos” não desistem e estão lá, pateticamente arranhando a terra seca com suas pás, em busca de fragmentos ósseos: é preciso enterrar Polinyces para desenterrar o passado forcluído; é preciso manter a memória, pois, como é dito no filme, a memória tem força de gravidade: ela atrái. Quem tem memória consegue viver o fugidio presente; quem não tem memória não consegue viver.



Menção Especial no Festival deCannes 2010.



Panorama do Cinema Mundial - (LEP) - Livre



QUA (29/9) 13:20 Estação Ipanema 2 [IP226]



QUA (29/9) 17:40 Estação Ipanema 2 [IP228]



QUI (30/9) 15:10 Est Barra Point 1 [BP132]



SEX (1/10) 16:00 Estação Botafogo 1 [EB150]



SEX (1/10) 22:00 Estação Botafogo 1 [EB153]



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CARLOS (Carlos)



de Olivier Assayas.



França / Alemanha, 2010. 330min.



por Luiz Fernando Gallego



Em apenas duas exibições no Festival do Rio deste ano, temos a mesma versão integral que causou sensação no Festival de Cannes 2010: as 5 horas e meia da agitada minissérie Carlos que Olivier Assayas (do delicado Horas de Verão, um dos melhores filmes lançados no Rio em 2009) dirigiu e roteirizou para a TV.



Trata-se de uma minuciosa recriação (em parte ficcional, apenas quanto à vida privada) do terrorista mais famoso dos anos 1970/80, interpretado excepcionalmente pelo ator venezuelano Edgar Ramirez que se sai extraordinariamente bem em detalhes físicos e psicológicos do personagem (além de falar com fluência espanhol, inglês, alemão, francês...) Anteriormente ele teve pequenas participações em filmes internacionais como Ultimatum Bourne e Che, de Steven Soderbergh.



Aliás, a comparação com esta última - e também longa realização - é inevitável pela ambição comum em retratar duas personalidades reais que marcaram de diferentes modos a agitação política “de esquerda” na segunda metade do século XX. São dois cineastas bem diferentes que transitam em diversos gêneros e com resultados irregulares. Soderbergh, mais pretensioso do que competente, dedicou-se a Guevara como mito positivo, enquanto Assayas expõe as contradições inerentes ao terrorismo de qualquer coloração política a partir da trajetória errática de “Carlos”.



Segundo o filme - que teve detalhada pesquisa histórica para elaboração do roteiro – “Carlos” se considerava um “revolucionário” pró-Palestina e anti-capitalista, mas também foi considerado um arrivista em busca da fama midiática e um mercenário que podia estar a soldo de diferentes governantes do Oriente e/ou de seus serviços secretos, muitas vezes conflitantes, mudando de lado conforme as mudanças políticas ou interesses mais escusos ainda. Ou apenas expressando inclinações ensandecidas de sua violenta personalidade psicopática travestida pela racionalização do que seria seu ideal marxista.



Contando com esquema de produção que aproxima o longa de qualquer blockbuster norte-americano (como, por exemplo, pela ampla movimentação de cenários em vários países), Assayas confirma a competência já revelada em outro projeto ambicioso de maior orçamento e longa duração como foi (mais doceamargo do que romântico na aparência) Os Destinos Sentimentais, lançado em 2000 e que tinha 173 minutos de duração.



Assistir de uma vez as cinco horas e meia dos 3 episódios pode ser mesmo uma maratona, mas também pode ser bem gratificante. A atenção e tensão da plateia se mantêm inalteradas durante todo o primeiro segmento e a maior parte do segundo. Claro que depois de 3 horas de filme, alguns espectadores, sabendo que chegaram apenas à metade do caminho, podem se ressentir, e um providencial intervalo de 10 minutos antecipa o terço final.



Com coerência dramática e fidelidade aos fatos, a perda de status do terrorista como “estrela” em ações ousadas pode pesar um pouco pelo inabitual tempo de projeção da saga completa de uma só vez, mas a qualidade cinematográfica se preserva inalterada: o que se reduz mais para o desfecho são as performances inquietantes de “Carlos” e seus comparsas em edição impecável. Na fase de “decadência” do terrorista (tornado indesejável em todos os países para os quais “trabalhou” anteriormente), a interpretação do ator é ainda mais digna de admiração. Aliás, todo o elenco se mostra impecável, incluindo as belas atrizes que encarnam as mulheres que se sucediam na cama de “Carlos”.



Existe uma versão de 2 horas e 45 minutos para salas de cinema, além desta integral em 3 episódios para a TV ou exibição de uma enfiada como ainda haverá outra neste Festival. É só levar líquido e sanduíche para a passagem do tempo e esticar as pernas durante o intervalo: pode valer a pena, ainda que reduza a esperança do espectador no eterno projeto de civilização tão combalido pela evidência das atitudes e movimentos perversos de tantas nações e governos (nem tão) “por debaixo dos panos”, em tenebrosas transações e ações “políticas” que não passam de bandidagem, até mesmo pior do que a das máfias marginais - e sob as bandeiras de estados-nações.



Panorama do Cinema Mundial - (LEP) - 14 anos



TER (28/9) 18:00 Estação Botafogo 1 [EB132]



SEG (4/10) 14:00 Oi Futuro em Ipanema [FT045]



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BEBÊS (Bébé(s))



de Thomas Balmes. França, 2010, 79 min



por PATRICIA REBELLO



É inevitável que qualquer sessão de Bebês seja recheada de ahs!, uhs! e muitos ooooooohs!... Díficil resistir às primeiras descobertas e frustrações de Ponijao, na Namíbia, Bayarjargal, na Mongólia, Mari, no Japão, e Hattie, nos Estados Unidos, os quatro bebês que são acompanhados pelo diretor Thomas Balmes durante o seu primeiro ano de vida. Mas, para além das gracinhas e dos encantos despertados por esses centímetros de gente que povoam o filme, há boas (e cinéfilas) razões para se assistir ao documentário de produção francesa.



Porque nos encantam tanto os sorrisos, os pequenos achados e as grandes surpresas experimentadas pelos bebês? Muito provavelmente porque nas percepções e nas reações que eles esboçam, encontramos um sentimento perdido de novidade e de ineditismo que fatalmente desaparecem à medida que se cresce e se percebe que nem tudo é tão novo ou tão inédito quanto inicialmente parece.



Foi a partir dessa perspectiva da descoberta que Thomas Balmes escolheu filmar Bébé(s). Não é um filme sobre bebês, mas sobre uma percepção de mundo que é própria dos bebês. A sacada do diretor foi filmá-los em variações de closes e planos médios, eliminando quase sempre a imagem de pais e mães. O que o filme nos dá a conhecer sobre o mundo, seja Namíbia, Japão, Mongólia ou Estados Unidos, conhecemos através dos rostos, dos olhares, dos sorrisos, dos choros, das expressões de medo, de alegria, de susto e de vitória dos pequenos. Talvez não exista imagem mais verdadeira e mais livre de influências, menos atravessada por julgamentos, moralismos, preconceitos e censuras. Há o frescor da descoberta dos animais, das coisas e dos sons; há também o conhecimento dos limites e da dúvida. Tudo absurda e absolutamente genuíno. Se não somos mais capazes de experimentar aquilo que os bebês experimentam, o documentário nos dá a imagem de como é experimentar. E por isso, talvez, Bebês renove nosso espírito ao trazer para a tela um pouquinho de algo que todo mundo um dia foi.



Panorama do Cinema Mundial (LEP) – Livre



SEX (24/9) 15:10 Est Barra Point 1 [BP102]



SEG (27/9) 13:20 Est Vivo Gávea 4 [GV416]



SEG (27/9) 19:50 Est Vivo Gávea 4 [GV419]



TER (28/9) 12:15 Estação Botafogo 1 [EB129]



TER (28/9) 16:20 Estação Botafogo 1 [EB131]



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MINE VAGANTI



de Ferzan Oztepek



(Itália, 2010). 110 min.



Por Marcelo Janot



Se Daniel Filho assistir à comédia italiana “Mine Vaganti”, é bem provável que queira fazer uma versão brasileira. Teria todos os ingredientes para seguir a trilha de sucesso de filmes como “Se Eu Fosse Você”. Difícil entender porque “Mine Vaganti”, dirigido pelo turco radicado na Itália Ferzan Oztepek, está na programação do Festival do Rio. É um filme comercial sem grandes pretensões artísticas, sobre dois irmãos gays que pertencem a uma família tradicional e conservadora do Sul da Itália. Quando um deles resolve sair do armário, o pai tem um infarto com a revelação, o que obriga o outro a abrir mão de sua intenção de também contar a verdade.



Como a maioria dos filmes comerciais de temática gay, há um tanto de estereótipo e caricatura, e cenas completamente dispensáveis apenas para supostamente entreter a platéia, como três amigos gays fazendo uma coreografia musical idiota na praia. Apesar do roteiro meio frouxo, “Mine Vaganti” ainda assim diverte e consegue arrancar algumas gargalhadas, sobretudo nas cenas do jantar que remetem a “Gaiola das Loucas”. Mas pode deixar muita gente com a sensação de que poderia ter aproveitado esse tempo para assistir a um filme com mais cara de Festival.



Terça (28/9) – 23h45 – Espaço de Cinema 1



Quarta (29/9) – 22h – Estação Ipanema 2



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A ÚLTIMA ESTAÇÃO (The Last Station), de Michael Hoffman.



Alemanha / Rússia, 2009.112min.



por Luiz Fernando Gallego



Autor de uma das mais famosas aberturas de romances já escritos (“Todas as famílias felizes se parecem; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira” em Anna Karenina), Leon Tolstoi também teve suas infelicidades familiares bem específicas: ao passar pelo que considerava sua “conversão” (viver como os camponeses, seguir princípios naturais, abandonando a vida sexual, tornando-se vegetariano e declarando que “os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas”), o grande escritor ganhou uma projeção messiânica para seguidores que formaram quase uma seita em torno de suas idéias, resultando em perseguição política e excomunhão pela Igreja Russa; mas acima de tudo aumentou a discordância com sua esposa de 48 anos ao morrer, a Condessa Sofia que não se conformava que deixasse os direitos autorais para seus seguidores e não para a família. Este aspecto é o cerne da trama de A Última Estação, dirigido com a correção habitual, mão pesada e sem maior brilho cinematográfico do diretor Michael Hoffman. Quem brilha aqui são seus atores contribuindo para que este seja o melhor filme de Hoffman desde Restauração, 1995.



Mas a motivação maior está mesmo no desempenho extraordinário (mais um) de Helen Mirren. Apenas pela fama que tem, vale mencionar o Oscar que reconheceu Mirren em A Rainha, de Stephen Frears, mas que este ano premiou Sandra Bullock. Pior para o Oscar.



Mirren é daquelas atrizes que empresta sua personalidade às personagens, fazendo com que os tipos passem a ser como seriam se ela fosse aquelas pessoas. Não quer dizer que não haja diferenças entre o que devem ser suas três maiores composições: a Rainha Elizabeth de reconhecimento mundial, esta Condessa Sofia, e uma “outra” Helen como governanta de Gosford Park (de Robert Altman). Ela é a mesma, capaz de dar vida às divergentes nobres e governantas com interiorização admirável.



O restante do elenco não faz feio, apesar de ter que se confrontar com a força da atriz: Christopher Plummer, aos 80 anos está muito bem como Tolstoi aos 82 - e melhor ainda quando vai dos beijos às brigas com sua “esposa” Sofia/Helen Mirren, deixando de lado a imagem canastrônica do Barão Von Trapp de A Noviça Rebelde conforme se pode constatar em seus desempenhos mais recentes em vários filmes.



James McAvoy (Desejo e Reparação) também está bem, Paul Giamatti, correto como de hábito em um personagem mais plano, assim como as atrizes Anne-Marie Duff e Kerry Condon em papéis secundários.



No mais, é um filme de produção requintada em fotografia e cenários (interiores e naturais), ritmo lento, algo “pesado”, mas que se torna mais do que leve toda a vez que Helen Mirren está em cena.



Panorama do Cinema Mundial - (LP) - 14 anos



SEG (27/9) 16:30 Cinemark Downtown 1 [DW001]



SEG (27/9) 21:30 Cinemark Downtown 1 [DW001]



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JOSÉ & PILAR



de Miguel Gonçalves Mendes. Portugal / Brasil / Espanha, 2010. 125min



por CARLOS ALBERTO MATTOS



Apreciará mais José & Pilar quem não entrar no cinema esperando um documentário sobre José Saramago. Disso terá pouco mais do que já se sabe: a convicção ateísta e comunista, o humor ferino por trás da carranca, as ideias profundas expressas de maneira corriqueira. Melhor abrir-se a um filme sobre a dinâmica de um casal. Nesse aspecto, há observações de sobra para colocá-los numa linha onde já se encontram Borges e Maria Kodama, Lennon e Yoko, Sartre e Beauvoir.



Os portugueses acusam Pilar de “levar Saramago para a Espanha”. Pilar e outros parentes se queixam de que os portugueses não o valorizavam. José dedicou todos os seus últimos livros a Pilar. Pilar dedicou a ele sua vida nos últimos 20 anos. Formavam um casal amoroso e cúmplice. A câmera de Miguel Gonçalves Mendes não capta muitos momentos de intimidade, mas bastam as duas tomadas das mãos entrelaçadas, em momentos cruciais, para dimensionar a importância de Pilar no metabolismo emocional de José.



De resto, há no filme um apego talvez excessivo à cronologia dos fatos – viagens, conferências, noites de autógrafo. As efemérides por vezes obscurecem a abordagem intimista. Mas é justamente isso o que deixa no ar uma questão: até que ponto essa agenda incessante, visivelmente estimulada por Pilar, levou José a descuidar da saúde? Ou estaria nisso o alimento da criação e da sobrevivência do escritor em seus derradeiros anos?



A sombra da morte atravessa José & Pilar como um vaticínio. O assunto é recorrente nas falas dele, nos trechos destacados de A Viagem do Elefante, na morte da mãe de Pilar, em notícias fúnebres que chegam ao casal. À vista do materialismo pétreo de Saramago, como devemos receber a a frase dele diante de uma câmera: “Pilar, nos reencontraremos em outro sítio”. Será pura literatura o paraíso de José?



Panorama do Cinema Mundial - (LP) - 10 anos



TER (28/9) 15:20 Estação Ipanema 2 [IP222]



TER (28/9) 19:40 Estação Ipanema 2 [IP224]



DOM (3/10) 18:00 Cine Glória [GL040]



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A WOMAN, A GUN AND A NOODLE SHOP



De Zhang Yimou (Hong Kong/China, 2010). 95 min.



por Marcelo Janot



Depois de inúmeras refilmagens de filmes asiáticos pelo cinema americano, chegou a vez de o Oriente dar o troco, e a matéria prima escolhida é pra lá de surpreendente: o diretor Zhang Yimou resolveu levar para uma área rural da China feudal o cult “Gosto de Sangue”, filme de estréia dos irmãos Coen. E o resultado é, no mínimo, curioso.



A história é a mesma, só que no lugar da atmosfera de policial noir americano com o tempero pessoal bem-humorado dos Coen, temos aqui um espetáculo cômico que beira a chanchada, com o típico humor pastelão popular no cinema asiático ditando o ritmo. Os personagens, exagerados, beiram a caricatura (há inclusive um gordinho dentuço que parece o Ronaldo Fofômeno eternizado por Bussunda). O diretor recorre a tomadas de câmera hiperrealistas e um cenário montanhoso deslumbrante onde se destaca uma lua artificialmente cheia.



Para quem aprecia “Gosto de Sangue”, é interessante ver como, mesmo ambientada em um cenário completamente distinto, a trama que envolve vingança, pilantragem e adultério se adequa perfeitamente à China feudal.



DOMINGO (26/9) – Estação Ipanema 2 – 13h20 e 17h40



Atenção: o filme deve ter exibição extra em substituição a outro anterioremente programado para terça-feira dia 28/9 no São Luiz às 16:30 e 21:30. Confirmar antes de ir.



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A EMPREGADA (Hanyo)



De Im Sang-Soo. Coreia do Sul, 2010 (106’)



Por Daniel Schenker Wajnberg



O evidente domínio de Im Sang-Soo acerca da gramática cinematográfica, em especial no que se refere à segurança na condução narrativa e ao cuidado na construção dos planos, não justifica totalmente a visita a A Empregada . O espectador mais exigente pode se ressentir da ausência de uma fala mais consistente embasando esse projeto de refilmagem de um filme homônimo (de Kim Ki-young), realizado em 1960. Sobressai, ao longo da projeção, o conflito de classes – entre ricos alienados, simbolizados pelo casal Hoon e Eun-yi, e pobres solidários e frequentemente obrigados a se humilhar para garantir a sobrevivência.



A governanta Byung-sik intermedia a contratação de Lee Eun-yi para o posto de babá na aristocrática mansão de Hoon e Eun-yi. Não demora muito para que Lee se envolva com o patrão – numa relação que se dá mais pela via do desejo que da imposição –, provocando a ira da patroa e da mãe dela. Oscilando de modo algo indefinido entre o melodrama e o humor escrachado (em determinadas cenas de Byung-sik), Im Sang-Soo sinaliza certa esperança no futuro através da personagem da filha do casal milionário, menos maquiavélica e não tão mergulhada num torpor quanto aqueles que a rodeiam.



Panorama do Cinema Mundial (LEP) – 18 anos



TER (28/9) 12h30 Espaço de Cinema 1 (EC125)



TER (28/9) 19h15 Espaço de Cinema 1 (EC 128)



QUA (29/9) 16h30 São Luiz 3 (SL021)



QUA (29/9) 21h30 São Luiz 3 (SL023)



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ATRAÇÃO PERIGOSA (The Town)



de Ben Affleck.



Estados Unidos, 2010. 125min.



por Luiz Fernando Gallego



O ator Ben Affleck, ao dirigir seu segundo longa-metragem, mais do que confirmar a boa impressão deixada por sua primeira incursão atrás das câmeras (Medo da Verdade/Gone Baby Gone, de 2007, lançado diretamente em DVD no Brasil), demonstra ter progredido como cineasta, apesar do enredo bastante explorado: marginal quer deixar o crime, mas tem dívida de gratidão com amigo violento que insiste em continuar roubando, e o romance com uma ex-vítima é o fator responsável pela tentativa de abandonar os assaltos por parte deste anti-herói. Sem tentar inventar a roda e muito menos macaquear o estilo de filme noir como já virou cacoete, Affleck consegue manter o interesse no desenrolar dos lances mais ou menos previsíveis do roteiro. Nem tudo prima pela verossimilhança, mas a habilidade em conduzir a narrativa faz com que só se questione alguns detalhes depois de encerrada a sessão: para um projeto de “cinemão” que pretende entreter, há que se reconhecer que a coisa foi feita com competência.



Ator que já recebeu vários “prêmios” de “pior desempenho”, surpreendeu meio mundo ao receber destaque como intérprete em Veneza 2006 pelo papel de George Reeves, esquecido astro da TV americana dos anos 1950 quando encarnava o ‘Superman’ no filme Hollywoodland - Bastidores da Fama. No ano seguinte teve algum reconhecimento pela direção do romance de Dennis Lehane Gone Baby Gone, mas talvez a comparação com outra adaptação para as telas de obra do mesmo autor (Sobre Meninos e Lobos) tenha deixado o filme de Affleck em desvantagem. A trama bem complicada do livro ficava muito condensada em 114 minutos, e a coincidência do tema com o desaparecimento real de uma criança em um caso ocorrido em Portugal que teve enorme repercussão adiou o lançamento do filme por seis meses.



Curiosamente, também ambientada em Boston, a trama mais banal deste The Town (título original) acaba servindo para o exercício de direção se mostrar eficiente. Com ajuda de bons atores como Rebecca Hall (de Vicky Cristina Barcelona) e Jeremy Henner (bem diferente do que fez em Guerra ao Terror).



A fotografia de Robert Elswit (Boa Noite e Boa Sorte, Sangue Negro), o bom uso da trilha sonora, e a edição eficaz de Dylan Tichenor (Sangue Negro) colaboram para o resultado final satisfatório no terreno de filme de gênero criminal com assaltos dramáticos a bancos e uma derivação romântica.



Sem chegar a prejudicar seu filme, apenas a interpretação do próprio Ben Affleck no papel central se mostra pouco modulada, sugerindo que, se como ator ele pode ser algo limitado, ainda poderá - talvez - vir a merecer mais reconhecimento como cineasta.



Panorama do Cinema Mundial - (LP) - 18 anos



SEG (27/9) 14:00 Leblon 2 [LB013]



SEG (27/9) 19:00 Leblon 2 [LB015]



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CURLING



de Denis Côté. Canadá, 2010 (92´)



Por Daniel Schenker Wajnberg



“O mundo é perigoso”, parece dizer, a todo instante, Jean-François, que por medo e ciúmes, confina a filha, Julyvonne, de 12 anos, dentro de casa, num lugarejo isolado no interior do Canadá. Praticamente sem contato com o meio externo, a menina não frequenta a escola e depende da permissão do pai para prazeres simples. O cotidiano dele é um pouco melhor: trabalha como empregado num boliche e num hotel decadente e suscita interesse sincero naqueles que o rodeiam. Nada, porém, que o afaste da letargia e do estado depressivo.



O cineasta Denis Côte traça, nesse Curling , um panorama humano desolador: seus dois protagonistas (interpretados por pai e filha na vida real – Emmanuel e Philomène Bilodeau) batem na tela como mortos em vida. Até que ambos, em ocasiões diversas, são confrontados com a perspectiva da morte de maneira contundente, o que os faz oscilar entre a morbidez e a necessidade de romper com o cotidiano sem perspectivas. Apesar do reconhecimento conquistado (o Leopardo de Ouro de melhor direção no Festival de Locarno), Côte não chega a imprimir uma marca especialmente consistente como realizador. Mas revela certo domínio, a julgar pelas cenas destituídas de diálogos e por passagens em que dimensiona a solidão dos personagens, como aquela em que Jean-François, abalado e recolhido no quarto escuro, fala com Julyvonne pela fresta da porta.



PANORAMA DO CINEMA MUNDIAL



TER (28/9) 17:00 Espaço de Cinema 1 [EC127]



TER (28/9) 21:30 Espaço de Cinema 1 [EC129]



QUA (29/9) 17:40 Est Vivo Gávea 4 [GV428]



QUI (30/9) 22:00 Estação Ipanema 2 [IP235]



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ELA, A CHINESA (She, a Chinese)



de Xiaolu Guo. Reino Unido / China / França / Alemanha, 2009 (98’)



por Luiz Fernando Gallego



A diretora e escritora Xiaolu Guo teve este filme, Ela, a Chinesa (em outros países o título traz o artigo indefinido: “uma chinesa”) premiado no Festival de Locarno de 2009; e no mesmo ano exibiu em Veneza um documentário que foi considerado “gêmeo” desta ficção (Once upon a time Proletarian), visando um retrato da China pós-marxista, segundo as informações. Com esta referência, não fica dúvida sobre a impressão inicial de que Ela, a chinesa) pretende abordar os avassaladores “valores” capitalistas em uma sociedade que até pouco tempo atrás seria antípoda da mentalidade de consumo ocidental.



Na verdade, a história de Li Mei (vivida pela bela e expressiva atriz Huang Lu) poderia ser a de muitas mocinhas nascidas no interior do Brasil, em qualquer lugarejo semi-agrícola já devassado pela “modernidade” e que emigra para uma “cidade grande” (no filme, Londres !), tendo tangenciado a prostituição e a marginalidade, fazendo casamentos de conveniência e trocando as canções românticas bregas chinesas que cantava em sua cidade por um iPod com som eletrônico de bandas bem mais barulhentas.



Mais do que o enredo, quase um clichê, a narrativa da cineasta se mostra fluente, ágil, e até bem-humorada nos títulos dos “capítulos” que dividem o roteiro, tal como “É possível gostar de um homem com óculos grandes?” ou “Toda mãe quer o melhor para sua filha”, ou ainda “Mao Tsé-tung cruzou (tantas) vezes o rio Yang-Tsé”, etc.



Assim como Huang Lu, todos os demais atores centrais mostram-se bem sintonizados com seus personagens e colaboram para que a narrativa visual mantenha o interesse sobre um tipo de história que, a rigor, já seria banal nas telas e fora delas. Fica uma única ressalva para o desfecho “em aberto”, mas que sugere bem mais que a novelista e diretora não conseguiu uma conclusão mais satisfatória e condizente com a criatividade alcançada nos detalhes do roteiro e na forma cinematográfica escolhida durante todo o filme.



Panorama do Cinema Mundial - (LEP) - 14 anos



SEG (27/9) 19:50 Est Barra Point 2 [BP219]



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UMA FAMÍLIA (En Familie)



De Pernille Fischer Christensen (Dinamarca, 2010)



Por Marcelo Janot



Quando se imagina que os prêmios da crítica concedidos pelos integrantes da FIPRESCI nos principais festivais mundiais devam valorizar a ousadia formal e o vigor estético, fica muito difícil entender porque um filme como “Uma Família” saiu vencedor em Berlim.



Apesar da correção com que lida com um tema dramático, não há nada nele que justifique um prêmio da crítica. A história é ambientada no mundo da família proprietária da mais tradicional padaria dinamarquesa. Quando o patriarca se descobre vítima de um tumor irreversível no cérebro, a doença passa a afetar a rotina de todos ao seu redor. Uma de suas filhas vive um dilema que remete a “Foi Apenas Um Sonho”, de Sam Mendes: ela recebe uma proposta de emprego em Nova York, mas ao mesmo tempo se descobre grávida. Decide abortar para poder viajar, mas seu pai lhe pede que comande os negócios da família.



“Uma Família” praticamente se resume ao desenrolar desses pequenos conflitos enquanto a saúde do pai vai piorando cada vez mais, rumo ao desfecho previsível. Mesmo poupando o espectador de um tratamento folhetinesco regado a dramalhão e pieguice, a diretora não oferece nada além de um filme digno, mas insosso.



Domingo (26/9), às 19h30 no Estação Barra Point.



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A SUPREMA FELICIDADE



de Arnaldo Jabor. Brasil, 2010. 125min.



Por Luiz Fernando Gallego



Pleno de referências cinematográficas, o novo filme de Arnaldo Jabor, depois de 23 anos sem dirigir, cai na armadilha de lembrar tantos bons momentos do cinema e ficar muito aquém de todos eles.



Além, de citar uma passagem de “Hamlet” (“exceto minha vida”), uma cena inteira de O Morro dos Ventos Uivantes (versão 1939, de William Wyler) é recitada pelos personagens dos pais de ‘Paulinho’ (provável alter ego - ficcional - do cineasta e roteirista quando jovem); a ‘mãe’ (Mariana Lima), canta We’ll meet again, canção que encerrava Dr.Fantástico de Stanley Kubrick em 1964; a moça que tira a roupa sem permitir que toquem em seu corpo, ameaçando o voyeur com o recurso de uma campainha para chamar seguranças, lembra por demais as cenas de Natalie Portman em Closer- Perto Demais (2004), de Mike Nichols – e os cinéfilos poderão detectar outras citações. Filmes que foram, todos eles, muito mais bem sucedidos do que este A Suprema Felicidade



E acima de tudo, a estrutura fragmentária do roteiro, com vários trechos isolados que não terão obrigatoriamente continuidade - salvo no que diz respeito aos pais e especialmente ao ‘avô’ vivido por Marco Nanini – pode lembrar Amarcord de Federico Fellini, sendo que o próprio Jabor escreveu que via seu filme como “um ‘Amarcord’ brasileiro” (sic). Era melhor que não lembrasse tanto nem que tal relação fosse enfatizada.



Toda a mescla de cenário histórico (como o fascismo que pontuava uma das maiores obras-primas de Fellini) ao lado de, principalmente, a recriação poética e oniróide da infância em Rímini, cidade natal do italiano, não se reproduz no Rio de Janeiro de Jabor nos anos 1940/1950. À exceção do final da II Guerra, não há pano de fundo histórico – o que é uma opção do cineasta -, mas há uma mistura mal sucedida de recriação cenográfica visando alguma verossimilhança ambiental com outros momentos “poéticos” e não necessariamente realistas ou naturalistas. Infelizmente, tanto em um sentido como em outro, tudo soa fake.



Até mesmo a auto-citação de momentos à moda de Nelson Rodrigues (de quem Jabor filmou Toda a Nudez será castigada e O Casamento) em cenas que envolvem prostitutas, agressões e sangue, soam patéticas sem atingir o sublime grotesco rodrigueano que o próprio Jabor conseguiu, especialmente em Toda a Nudez.... Também é patético o trecho bizarro vivido por Maria Flor em uma casa decadente, mesclando sexo e espiritismo como em um “A Vida como ela é”; e um outro exemplo deste calibre é quando o menino é cercado por “uma família onde todos são cegos, menos a mãe que é vidente” – que pode talvez se referir à cartomante de A Falecida, peça de Nelson levada às telas por Leon Hirzsman da mesma época em que Jabor também fazia parte do “Cinema Novo”.



Os diálogos muitas vezes são apenas ruins, e sacrificam os esforços de Mariana Lima, especialmente quando, depois de brigar com o marido (Dan Stulbach), volta-se para o filho (na fase de 8 anos) dizendo como seu pai seria bom. A transição é constrangedora.



Piores são as frases “filosóficas” do avô e sua “sabedoria” quase de “auto-ajuda” (“Nem tudo é inteiramente bom” e, mais adiante... “nem tudo é inteiramente ruim”). Marco Nanini faz o que pode, mas a matéria-prima é ruim até para o ator que é o único a sobrenadar o naufrágio geral. Os traumas de uma educação religiosa católica e repressora, especialmente no terreno sexual, são encenados de forma concreta e estereotipada, e por mais que tais momentos possam até corresponder ao vivido de fato pelo cineasta e outros alunos de colégios católicos da época, sua encenação é mais ridícula do que o ridículo das admoestações dos padres-professores da época, resultando em uma “denúncia” de questões já por demais pisadas e repisadas sem nenhum acréscimo criativo e/ou artístico (nem lembremos as cenas do menino ‘Guido’ em confronto com os padres em Fellini 8 ½ ou a confissão do rapazola em Amarcord, menos “raivosas” e mais críticas em sua ironia quase afetuosa para com o passado de culpas incutidas pela Igreja).



O mesmo ataque sem novidades a questões antiquadas se dá com a crítica implícita (ou explicitada em falas que não acreditam nas imagens) ao casamento à moda machista que impedia a mulher de trabalhar fora. As atrizes jovens que interpretam as mulheres jovens que atraem o protagonista podem sugerir uma atração “edípica” na medida em que se revelam a ele em interpretações de standards do cancioneiro americano, tal como a mãe de ‘Paulinho’ se revela ao tentar expor seu aspecto menos “Amélia” forçada pelo marido (militar). Mas estas sugestões vagas também não merecem desenvolvimento no roteiro. Por opção? Não importa, o resultado é sempre de uma incompletude insatisfatória.



O artificialismo de tantos momentos também se faz presente na cena estilizada de carnaval que pode sugerir uma tentativa de recriar/citar/aludir ao estilo de musical norte-americano clássico - ou talvez, involuntariamente ou não, a uma cópia cabocla dos tempos do cinema brasileiro da Vera Cruz ou mesmo das chanchadas, mas novamente o resultado soa mais estranho do que poético em meio a outras cenas de viés mais cru e pretensamente chocante. As angústias homossexuais centradas em um jovem amigo de ‘Paulinho’ aos 19 anos ficam mais soltas e incompletas do que “em aberto”, como outras tantas vertentes que o filme tenta contemplar em duas longas horas de duração. Infelizmente o resultado final é de muito esforço sem sucesso, o que chega a causar constrangimento ns plateia que vai se mostrando desconfortável com o que vê. Incluindo o desempenho do ator de uma única expressão facial que faz o ´Paulinho" aos 19 anos



Panorama do Cinema Mundial - (LEI) - 16 anos



SEX (24/9) 15:40 Est Vivo Gávea 3 [GV302]



SEX (24/9) 22:10 Est Vivo Gávea 3 [GV305]

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