Críticas


TUDO PELO PODER

De: GEORGE CLOONEY
Com: RYAN GOSLING, GEORGE CLOONEY, PHILIP SEYMOUR HOFFMAN, EVAN RACHEL WOOD
23.12.2011
Por Carlos Alberto Mattos
O CHAMADO DA SELVA

Em sua obra-prima, O Chamado da Selva, o escritor Jack London narra as transformações de um cão São Bernardo. Originalmente doméstico e civilizado, Buck é raptado e vendido a aventureiros do ouro no Alasca do século 19. Subjugado, maltratado e exposto a condições extremas de sobrevivência, ele aos poucos vai abandonando os nobres sentimentos. Passa a disputar agressivamente as melhores posições e eliminar concorrentes. Finalmente, faz contato com seus instintos primordiais e se converte numa fera indomável, capaz de estraçalhar animais e homens.



Lembrei-me dessa leitura enquanto assistia a Tudo pelo Poder. No fundo, a história contada aqui por George Clooney, a partir de peça de Beau Willimon, é tão behaviorista quanto a de Jack London e tem muitos pontos de contacto. Substitua-se Buck pelo assessor de imprensa Stephen Meyers (Ryan Gosling) e a selva pela campanha a uma indicação Democrata nas primárias de uma eleição presidencial americana. O que temos é uma parábola sobre a dificuldade em preservar a pureza e o idealismo na luta pelo poder. Atacado por todos os lados, deixando flancos abertos por um misto de ingenuidade e ambição, Stephen é como um cão fiel a seu dono, desde que possa descansar a cabeça sobre seu colo e sentir-se o preferido. Ao perder esse posto, não medirá atitudes para satisfazer o orgulho ferido. O candidato vivido por Clooney, o dono do cão, também terá testados os seus princípios imaculados quando for preciso salvar as aparências e a candidatura.



O título original refere-se, um tanto pomposamente, aos célebres “Idos de Março”, episódio da morte de César por conspiradores no século 44 AC. Talvez a pretensão de Clooney tenha sido maior que o material em suas mãos. Tudo pelo Poder não é muito mais que um bom filme, claramente bem dirigido e roteirizado. O drama político se torna um thriller a meio caminho, valendo-se de bons paralelos entre a “vitrine” da campanha – os discursos, entrevistas e performances públicas do candidato – e os bastidores, onde se arma o jogo dos blefes, chantagens e intimidações. Numa cena excepcional, essas duas linhas vão se encontrar em torno de um simples chamado num celular.



Como se não bastasse o caso Clinton-Lewinski, o democrata Clooney volta a alertar os políticos para o perigo sempre latente das estagiárias sexy. Elas também podem acionar o “chamado da selva”.

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