Beaufort é o nome de uma fortaleza no Líbano construída no período das Cruzadas. Séculos depois, foi utilizada como ponto estratégico pelo exército de Israel na invasão de 1982 que deflagrou um conflito de 18 anos entre os dois países. “Beaufort” é também o título do filme israelense que deu a Joseph Cedar o prêmio de melhor diretor no Festival de Berlim de 2007.
Seu principal mérito é o de tentar oferecer algo novo após tudo o que já foi mostrado em filmes de guerra com mensagens antibelicistas. A narrativa enclausura o espectador dentro do bunker, onde um pequeno grupo de soldados israelenses vivencia os últimos dias de um conflito sobre o qual não sabe muito bem para que serve e nem o que está em disputa. Uma sensação de angústia é passada pela música minimalista e o ambiente escuro, em que a fotografia de poucos contrastes intercala o amarelo da iluminação do bunker com o cinza do árido cenário exterior nas cenas diurnas.
Mais do que incômodo e inconformismo, os diálogos trazem boas doses de acidez. “Você quis vir ou foi por engano que veio parar aqui?”, um soldado pergunta a outro, que responde: “Eu quis vir, o engano foi esse”. Em outra cena vemos um boneco na trincheira, com roupas militares, utilizado para confundir e atrair o fogo libanês. O boneco permanece incólume em um período de aparente calmaria, mas os raros ataques inimigos são certeiros, assim como o roteiro, que enfatiza o lado humano dos combatentes para que o espectador sinta e reflita sobre suas mortes. Personagens que parecem ter status de protagonistas saem de cena subitamente, mostrando quantas vidas se sucedem anonimamente no campo de batalha.
Do inimigo invisível só se vê o estrago causado. As críticas atingem em cheio o governo israelense e o Hezbollah, grupo radical libanês que tenta tirar proveito político da desocupação. Entendemos que o militarismo em Israel é uma herança de pai pra filho, mas a situação chegou a tal ponto que o patriotismo e o orgulho familiar não são mais suficientes para justificar tantas vidas desperdiçadas. As balas de alcaçuz que os soldados consomem são a perfeita metáfora de um mundo cuja doçura já foi sugada, deixando somente o sabor amargo das guerras sem fim.