Críticas


PARA ROMA, COM AMOR

De: WOODY ALLEN
Com: WOODY ALLEN, JUDY DAVIS, PENELOPE CRUZ
07.07.2012
Por Marcelo Janot
WOODY ALLEN MEIA-BOMBA

Sou daqueles que cai na gargalhada só de ver Woody Allen entrando em cena, mesmo fazendo piada com um assunto tão singelo quanto turbulência em avião. Depois de tanto tempo longe das telas, é um privilégio e uma emoção vê-lo atuando, porque um personagem vivido por Woody Allen traz consigo sempre um pouco de todos aqueles personagens que nos fascinaram em dezenas de filmes.



Em se tratando do Woody Allen diretor, sabemos que os lampejos de genialidade são raros desde “Desconstruindo Harry” (1997), ainda mais mantendo o alucinado ritmo de produção de quase um filme por ano, mas seus filmes são quase sempre acima da média no panorama de comédias produzidas pelo cinema contemporâneo. Quando “Meia-Noite em Paris” foi lançado, ano passado, com elogios quase unânimes e prêmios conquistados, se tornou uma grata surpresa para quem já tinha se acostumado com um Woody Allen que vinha fazendo bons filmes, mas no piloto automático.



Por isso ficou a expectativa de que em “Para Roma, Com Amor” ele mantivesse o nível e alcançasse a excelência de seu trabalho anterior. Demora um pouco para que a expectativa se transforme em decepção. Até a metade do filme, ele consegue arrancar boas gargalhadas com as situações criadas pelos quatro núcleos de personagens que nunca se encontram. O problema é que o filme acaba padecendo de um problema grave para um comediante, e do qual nem Woody Allen escapou: uma piada estendida se torna repetitiva e perde a graça. É o que acontece em cada um dos quatro episódios. Alguns não demoram muito a perder o fôlego, como o triângulo amoroso vivido por Jesse Eisenberg, Ellen Page e a péssima Greta Gerwig. Outros se esgotam quando saem do campo do inusitado e derrapam num didatismo primário, como os discursos do motorista para a celebridade instantânea vivida por Roberto Benigni.



Há um momento no filme em que Judy Davis diz ao personagem de Woody Allen que ele vive num mundo de fantasia. O que se percebe com “Para Roma, com Amor” é que ele ainda sonha com um mundo em que artistas como o cantor de ópera de chuveiro terão seus talentos mais reconhecidos do que os zé ninguéns que viram celebridades por terem deixado de ganhar um bolão de loteria (ou qualquer outro motivo prosaico) e que são engolidos pelo Moloch dessa indústria perversa. Foi no registro da fantasia, através de uma viagem escapista à efervescente Paris cultural do início do século passado, que Woody Allen transmitiu recado semelhante em seu filme anterior. Em “Para Roma, Com Amor” ele errou a mão na forma. Resta aos fãs o consolo de que meio filme de Allen já vale o preço de um ingresso inteiro.

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