Especiais


FESTIVAL DO RIO 2012: ELENA

02.10.2012
Por Luiz Fernando Gallego
OS FILHOS DE CADA UM

ELENA, de Andrei Zvyagintsev



O terceiro longa-metragem de Andrei Zvyagintsev recebeu o Premio Especial do Júri na mostra Um certain regard, do Festival de Cannes 2011. Para quem não lembra, Zvyagintsev estreou em filmes para salas de cinema com O Retorno, Leão de Ouro (e mais 4 prêmios) em Veneza ‘2003. Em Elena, ele troca as cores acachapantes da natureza selvagem do filme de estréia por tons mais azulados e eventualmente sombrios em interiores e exteriores urbanos de uma cidade russa que tem usinas nucleares nas proximidades.



Se O Retorno mostrava, em um clima quase mítico, a volta de um pai desaparecido por anos na vida dos filhos adolescentes, Elena aborda de forma naturalista os conflitos de um casal nada jovem sobre os filhos de cada um deles, já adultos. Vladimir, bem mais velho que a esposa e vivido com notável contenção pelo também diretor Anddrey Smirnov, tem uma filha que não liga para ele e que leva uma vida pouco regrada; Elena, interpretada de modo admirável por Nadezhda Markina (premiada pelo papel), tem um filho casado que não trabalha e que tem dois filhos, um bebê e um adolescente, Sasha, que por sua vez não rende nos estudos e anda em más companhias. Seus pais (e a avó Elena) querem livra-lo de ter que servir o exército. Mas para isso, o rapazola precisaria estar em uma faculdade – e suas notas não são nada boas. Só resta pagarem uma faculdade particular, caríssima, mas quem tem dinheiro (e muito) é Vladimir. E ele acha que a família de Elena não deve ser tão ajudada financeiramente, já que ninguém trabalha.



O conflito entre os dois é discreto e educado, ainda que, por vezes, Vladimir levante a voz, especialmente quando Elena tenta argumentar utilizando as falhas da filha dele. Ela é complacente com o próprio filho. Não sabemos até quando Valdimir também o seria com sua filha.



As cenas iniciais são em ritmo bem lento e podem deixar o espectador impaciente prevenido contra o filme devido a alguns planos fixos e outros planos-sequência longos onde nada acontece fora da rotina do casal: Elena desperta, vai acordar Vladimir, prepara o café da manhã, etc. Mas o roteiro não vai ficar por aí e a linguagem adotada vai se justificar plenamente mostrando-se adequada à história muito bem encenada. Apenas o uso da música de Philip Glass, ainda que bonita, pode ser questionada em alguns momentos. Mas não chega a haver uso abusivo da trilha musical que fica apenas um pouco enfática e em certo descompasso com a opção mais realista da dramaturgia. Nada mais será dito sobre o enredo. Apenas diremos que...



ATENÇÃO: SPOILER



...há ecos dos retratos de província que Georges Simenon fazia em alguns de seus romances mais psicológicos e sem o comissário Maigret.

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