Críticas


GONZAGA – DE PAI PRA FILHO

De: BRENO SILVEIRA
Com: CHAMBINHO DO ACORDEON, JULIO ANDRADE, LAND VIEIRA
06.11.2012
Por Marcelo Janot
AULA DE CINEMA POPULAR

Estreando como ator, o músico Chambinho do Acordeon,é muito parecido com Luiz Gonzaga (e também não lembra o lutador Muhammad Ali quando jovem?); pra quem viu Julio Andrade em “Cão Sem Dono”, de Beto Brant, a metamorfose para encarnar Gonzaguinha à perfeição é impressionante; os coadjuvantes são muito bons, em especial Claudio Jaborandy, com sua interpretação emocionada como Januário. O elenco é apenas um dos pontos fortes de “Gonzaga – De Pai Pra Filho”, nova incursão de Breno Silveira na seara do cinema dito “popular.



Despudoradamente melodramático, arranca lágrimas às custas de uma história de superação e de reconciliação ancorada na realidade, mas quase ficcional de tão fantástica e inacreditável. As trajetórias de Gonzaga pai e Gonzaga filho têm semelhanças, mas se diferenciam das de Zezé di Camargo e Luciano pelo contexto em que a busca pelo sucesso se manifesta em ambos os casos: se no dos Gonzagas o reconhecimento vem como consequência natural de um talento extraordinário, com os Dois Filhos de Francisco, embora a trajetória seja igualmente acidentada (e recheada de dramas familiares), já é possível notar um embrião da estrutura de marketing que molda os Zezés e Gonzagas dos dias de hoje.



Talvez por despertar esse sentimento mais forte de nostalgia, “Gonzaga – De Pai Pra Filho” emocione mais. Só que o roteiro de Patricia Andrade soube explorar com inteligência um recheio musical tão forte e vibrante. Quando parece que o filme cairá na armadilha do dramalhão, surgem cenas de shows impecavelmente encenadas ou tira-se da cartola uma cena de humor genial, como o recrutamento do anão e do engraxate. A ela soma-se uma hilária participação do "rouba-cena” habitual João Miguel recrutando o jovem Gonzaga para seu primeiro show.



Se pegarmos como efeito de comparação a tentativa quase constrangedora de se transformar Lula em um novo Messias através de diálogos artificiais com uma narrativa frouxa em “Lula, o Filho do Brasil”, de Fabio Barreto, em “Gonzaga – De Pai Pra Filho" Breno Silveira dá uma aula de como fazer cinema popular sem menosprezar a capacidade intelectual do espectador.

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