Críticas


MARCADOS PARA MORRER

De: DAVID AYER
Com: JAKE GYLENHAAL, MICHAEL PEÑA, ANNA HENDRICS
10.11.2012
Por Marcelo Janot
ADRENALINA SEM FOLGA

A expressão “End Of Watch”, que batiza o filme, no jargão da polícia americana se refere ao fim de turno após um dia de trabalho. A tradução brasileira, “Marcados para morrer”, não só tira a sutileza do título original como ainda entrega parte da trama. Lamentável, já que esta produção não é, em sua essência, sobre policiais "marcados para morrer". Isso não é suficiente para tirar o clima de suspense em relação ao desfecho de um dos thrillers policiais mais envolventes dos últimos anos.



Não há nada de muito original em uma trama sobre uma dupla de policiais enfrentando perigosos traficantes e colocando suas vidas em risco. Já vimos esse filme inúmeras vezes: os policiais são bons e incorruptíveis, os bandidos são maus até o último fio de cabelo. O que torna "Marcados para morrer" tão especial é a forma encontrada pelo diretor e roteirista David Ayer para contar a história. Os oficiais Taylor (Jake Gylenhaal, de "Soldado Anônimo") e Zavala (Michael Peña, de "World Trade Center") seriam apenas mais uma dupla formada por um branco e um latino patrulhando áreas barra-pesadas de Los Angeles se o primeiro não estivesse também fazendo um curso de cinema nas horas vagas, como forma de aliviar a tensão. Jamais o vemos em sala de aula, mas o observamos fazendo o "dever de casa": Taylor utiliza uma handycam e até câmeras portáteis de lapela para registrar os bastidores do trabalho de policial, com o intuito de fazer um documentário.



O recurso da câmera na mão, portanto, deixa de ser um mero cacoete gratuito e passa a se tornar parte integrante da ação. Com isso, o filme não só ganha mais realismo e adrenalina (notável desde a primeira cena de perseguição), como também permite que o espectador tenha acesso a detalhes do cotidiano na corporação pelo ponto de vista de Taylor. Dos diálogos rotineiros na viatura às reuniões internas, tem-se um frescor que em nada lembra os derivados de "Máquina Mortífera" que Hollywood produziu às pencas. Você sabia, por exemplo, que antes de sair com uma pretendente amorosa acima de qualquer suspeita é prudente que o policial cheque se ela é fichada na DP?



Há alguns furos de roteiro, como uma cena em que os chefões do tráfico no México aparecem na imagem de uma câmera de vigilância, que não se sabe de onde veio e nem porque não mereceu atenção da polícia, mas é pouco para tirar os méritos do filme. Além disso, Gylenhaal e Peña desempenham seus papéis de maneira especialmente convincente, encontrando a tão almejada "química" necessária para o sucesso de um "buddy movie".



Publicado originalmente no jornal O Globo de 09.11.2012

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