Críticas


O MANUSCRITO PERDIDO

De: JOSÉ BARAHONA
30.11.2012
Por Carlos Alberto Mattos
CARTAS PORTUGUESAS

A correspondência está no cerne desse doc em co-produção luso-brasileira, premiado na 15ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico. Tudo começou quando José Eduardo Agualusa publicou as cartas de Fradique Mendes, poeta e aventureiro português que andou pelo Brasil no século XIX e libertou seus escravos antes da abolição, contestando os padrões da época. O documentarista português José Barahona veio recentemente ao Brasil em busca de um certo manuscrito deixado por Fradique. Ele narra sua viagem em forma de carta a Agualusa, ao mesmo tempo em que resgata trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha. De certa maneira, Barahona incorpora o viajante português de sempre, mas agora interessado em procurar aspectos atuais da herança colonizadora de seus conterrâneos, especialmente no capítulo das contradições.



O que ele recolhe, num trajeto pelo interior da Bahia e no Rio de Janeiro, é um pequeno tratado de antropologia popular. Feirantes, monges, índios, sem-terras dão sua versão sobre a História e a atualidade. Muita coisa ali é mais novidade para ouvidos portugueses do que para os nossos, mas ainda assim alguns personagens se destacam. Como Noêmia, uma sem-terra feliz e vaidosa que parece ter saído de um dos melhores momentos de Eduardo Coutinho. A busca do manuscrito é pouco mais que um efeito retórico. Mais valem as reflexões do caminho, sejam as de Barahona, sejam as de alguns de seus interlocutores.

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