Críticas


HOMEM DA MÁFIA, O

De: ANDREW DOMINIK
Com: BRAD PITT, RICHARD JENKINS, JAMES GANDOLFINI
30.11.2012
Por Marcelo Janot
EXCESSOS ATRAPALHAM

O diretor australiano Andrew Dominik chamou a atenção em 2007 ao realizar “O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”, um faroeste reflexivo, com pouca ação e uma abordagem instigante da história de um mito do Velho Oeste. Cinco anos se passaram até Brad Pitt assumir de novo as funções de produtor e protagonista, interpretando outro personagem violento e temido. Mas as semelhanças entre os dois filmes não vão muito além disso. Em “O homem da máfia”, a todo instante somos lembrados de que estamos às vésperas da eleição presidencial de 2008, com discursos de Obama, McCain e Bush praticamente servindo de trilha sonora em inúmeras cenas. É uma maneira pouco sutil de enfatizar a grave crise econômica vivida pelos americanos e de se atualizar a história do romance policial “Cogan’s Trade”, de George V. Higgins, publicado em 1974.



Apesar da insistência na conexão com a crise e as eleições, a história, passada no submundo do crime em New Orleans, é atemporal, e já vista inúmeras vezes com melhores ou piores resultados. Percebe-se que Dominik faz de tudo um pouco pra tentar tirar o filme do lugar comum, mas as soluções encontradas nunca se mostram plenamente satisfatórias. Há, por exemplo, o personagem de um matador vivido por James Gandolfini que é contratado para executar alguém, mas o roteiro se desvia do assunto pra abrir espaço para uma longa divagação sobre sua crise conjugal, que é totalmente dispensável.



Mais interessante é o personagem de Brad Pitt. Na pele de um assassino profissional que prefere matar à distância para não ter que encarar o sofrimento de suas vítimas (daí o título original “Killing them softly”), Pitt debocha do discurso de Obama sobre os Estados Unidos como “uma só nação e um só povo”. A fragmentação interna da máfia local revela um “cada um por si” que só a lei da bala resolve. Bala esta que ganha contornos artísticos pela lente de Dominik, em uma cena de extremo apuro visual, com câmera lenta e uso irônico da música “Love letters”, importada de “Veludo azul”. A ótima trilha sonora de clássicos do passado também é utilizada de forma exagerada. Tanto artificialismo parece nos querer lembrar da presença de um diretor que efetivamente sabe dirigir e conduzir com eficiência um thriller policial, mas que teria melhor resultado se controlasse seu exibicionismo. Mais enxuto que “O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”, com bom ritmo e ótimo elenco, “O homem da máfia” acaba fracassando na tentativa de se oferecer algo original.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário