Críticas


NA TERRA DE AMOR E ÓDIO

De: ANGELINA JOLIE
Com: ZANA MARJANOVIC, GORAN KOSTIC, RADE SERBEDZIJA
07.12.2012
Por Carlos Alberto Mattos
GUERRA EM VELHO ESTILO

Duas explosões, uma no início e outra no final do filme, selam o destino do par romântico formado por um oficial sérvio e uma pintora muçulmana durante a guerra da Bósnia, nos anos 1990. Entre uma explosão e outra, Angelina Jolie faz sua estreia na direção com um filme de guerra em velho estilo e com as melhores intenções. A guerra faz com que a pintora se torne prisioneira do oficial, abrindo um leque de possibilidades entre a paixão, o oportunismo e a traição. O espectador de Na Terra de Amor e Ódio (In the Land of Blood and Honey)não fica completamente imune a essas tensões, mas tem que enfrentar uma série de obstáculos até a cena final.



A começar pela insistência de Jolie (que também escreveu e produziu o filme) em detalhar as humilhações e a vitimização das mulheres. Chega-se à fronteira do excesso na caracterização (ou melhor, caricaturização) dos soldados sérvios como carrascos e animais impiedosos, em oposição às vítimas indefesas e vilipendiadas. E não se trata de um retrato patológico como o do oficial nazista de A Lista de Schindler, mas de um perfil coletivo. No cinema, a verdade é refém da veracidade. Não foi à toa que os bósnios negaram apoio à produção, que teve de transferir as filmagens para a Hungria.



Depois, há os aspectos inconvincentes do cativeiro “de luxo” da moça em meio ao ódio dos sérvios contra os muçulmanos. Em alguns momentos, a atmosfera forçadamente romântica parece pertencer a outro filme bem diferente do que estamos vendo. Por fim, o filme foi rodado em duas versões com os mesmos atores falando bósnio e inglês. A versão que está circulando internacionalmente é em inglês, o que liquida com qualquer pretensão de verismo étnico e histórico. A impressão é que estamos diante de um antigo drama de guerra mal dublado para o público preguiçoso americano.



La Jolie prova que tem pulso empreendedor, tenacidade política e consciência de justiça. Mas deixou-se levar pelas facilidades do gênero e as conveniências da ideologia. E errou feio ao lançar uma versão macarrônica, verdadeiro tiro pela culatra.

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