Críticas


KILLER JOE – MATADOR DE ALUGUEL

De: WILLIAM FRIEDKIN
Com: MATTHEW McCONAUGHEY, THOMAS HARDEN CHURCH, EMILE HRISCH
08.03.2013
Por Luiz Fernando Gallego
O apelo à violência “engraçadinha” soa como oportunista, lembrando mais Tarantino do que Irmãos Coen

Em nosso texto sobre o filme anterior feito para telas de cinema assinado por William Friedkin (Possuídos, 2006 -Bug no título original) apontávamos o clima de terror grand-guignol no seu desfecho. Não é tão diferente o que se vê no mais recente Killer Joe Matador de Aluguel (2011), com vantagem na mescla de grotesco e humor (negro). Quem não se incomodar com as cenas de violência engraçadinhas à moda de Tarantino poderá gostar do filme. Não é para levar a sério a lembrança forçosa do matricídio mais famoso da mitologia, quando Orestes, associado à irmã Electra, matou Clitemnestra, mas o gancho é bem parecido. O grotesco na narrativa pode lembrar para nós, brasileiros, uma família tão ou mais disfuncional como as de Nelson Rodrigues, especialmente a de Os sete Gatinhos, incluindo a proposta de colocar como moeda de troca a virgindade da irmã – com a concordância do pai da moça, apresentada como um tanto "prejudicada" - como se os demais membros da família, não fossem tão (ou mais) idiotas e sem-noção do que ela.

Um dos trunfos do filme está no elenco, com adesão à farsa por parte do trio central de atores: Emile Hirsch, em sua melhor (e radicalmente diferente) oportunidade desde Na Natureza Selvagem; Thomas Haden Church, também em chave bem diversa de seu papel mais conhecido (Sideways – entre umas e outras) sem medo de dar vida(?) a um chefe (?) de família com QI de ameba; e especialmente, Matthew McConaughey no papel-título original (Killer Joe). O ator, já não tão galã como no início de sua carreira, vem abandonando os papéis de “bonzinho” com bons resultados em tipos cabotinos (como em O Poder e a Lei e no lamentável Magic Mike, outra derrapada feia de Steven Soderbergh).

As atrizes Juno Temple como a moça dita limitada e Gina Gershon como sua espevitada madrasta estão, cada uma, adequada ao tipo exigido pelo roteiro: Gina em personagem com mais oportunidades – que ela usa muito bem.

O roteiro, como no caso de Possuídos, é extraído de uma peça do também ator Tracy Letts, aqui também roteirista, desta vez menos "teatral" – e a opção pela farsa em vez do drama “sério” funciona melhor do que no outro filme. Mas, em que pese a direção ágil de Friedkin, não dá para afastar a sombra de Tarantino sobre aquele que já foi uma superestimada promessa inicial (Operação França), posteriormente afundada em pretensão (a refilmagem de Salário do Medo, de Clouzot, não necessariamente ruim, mas atropelada pela desmesura do diretor) e por momentos em que sua carreira parecia irrecuperável (Jade).

Pode ser que Friedkin esteja se recuperando como cineasta, e neste filme ele conta com ajuda da ótima edição de Darrim Navarro (seu colaborador em O Exorcista e em Possuídos), da boa trilha musical de Tyler Bates e da câmera eficiente de Caleb Deschanel. Mas o apelo à violência “engraçadinha” ainda soa como oportunista e passível de alguma rejeição por uma parte do público. O tom geral é mais Tarantino do que Irmãos Coen (a trama do filme e os personagens imbecis lembram bastante os de Fargo, mas o talento não é o mesmo).



 

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