Críticas


PAULINHO DA VIOLA – MEU TEMPO É HOJE

De: IZABEL JAGUARIBE
25.07.2003
Por Carlos Alberto Mattos
UM BELO "SHOWCUMENTÁRIO"

Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje chega às telas envolvido no incenso dos elogios de colunistas, artistas e gente fina em geral. Poderia ser tomado por um pequeno fenômeno de mídia, se fosse apenas isso. Mas o filme de fato merece a simpatia de que vem cercado.



Na primavera documental que colore o cinema brasileiro hoje em dia, os perfis de músicos tornaram-se, não sem razão, um dos gêneros preferidos. A matéria-prima, afinal, é farta, e esse tipo de documentário conjuga informação e performance em formato irresistível. E o melhor de tudo: os exemplares mais felizes são filmes condizentes com a personalidade dos retratados. Se Coruja, de Márcia Derraik e Simplício Neto, tinha o jeitão popular e maldito de Bezerra da Silva, e se o Nélson Freire de João Moreira Salles passa o estilo reservado e a grandeza discreta do pianista, Meu Tempo é Hoje replica perfeitamente a elegância e a graça compenetrada de Paulinho.



O trunfo do filme, além da impecável qualidade sonora, é o acesso que teve à intimidade bem protegida do compositor de Sinal Fechado. A intimidade possível, é claro, quando se trata de mostrar a vida familiar de alguém alterada pela presença de uma equipe, luzes de cinema, rebatedores etc. Sim, porque não se trata de uma reportagem do tipo “mosca na parede”, mas de uma exposição formal e bem produzida. Nesse caso, chega a ser uma façanha flagrar Paulinho relativamente à vontade em conversas divertidas com a mulher e os filhos, visitando seu ateliê de marceneiro amador, confraternizando com a Velha Guarda da Portela, empunhando os tacos de bilhar ou freqüentando o seu bar preferido.



Um homem antigo, sem dúvida, mas que o tempo não conseguiu atingir. Foi nas idiossincrasias de Paulinho em relação ao passado, à nostalgia e à permanência das coisas que os realizadores encontraram o gancho para transcender o retrato rotineiro de artista. Um belo achado. O tema introduz uma reflexão que vai encontrar ressonâncias na obra do compositor, ressaltando seu valor autoral, assim como em vários aspectos de sua vida particular. O título do filme acabou ecoando o de Vinícius de Moraes – Meu Tempo é Quando, megaevento apresentado no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio em 1990, e do documentário de Beth Formaggini sobre o cineasta Walter Lima Júnior, Walter.doc – O Tempo é Sempre Presente.



A participação de Zuenir Ventura, amigo de longa data, teria sido fundamental para o acesso a peculiaridades relativamente privadas do comportamento de Paulinho. Por isso mesmo, fica a impressão de uma certa reunião “familiar”, que em certos momentos se abre para a franca tietagem, como no domingão chez Zeca Pagodinho. Afinal, estamos no reinado do filme-homenagem, com suas virtudes e limitações de praxe.



Izabel Jaguaribe, a talentosa diretora de Passageiros, pequena obra-prima integrante da série Seis Histórias Brasileiras, fez aqui um autêntico “showcumentário”, que já nasce com toda pinta de sucesso em DVD. Alguns números musicais, como o dueto de Paulinho com Marisa Monte em Carinhoso, são para rever inúmeras vezes em casa, taça de vinho na mão e lágrimas nos olhos.





PAULINHO DA VIOLA: MEU TEMPO É HOJE

Brasil, 2003

Direção: IZABEL JAGUARIBE

Produção: MAURICIO ANDRADE RAMOS / Videofilmes

Roteiro: IZABEL JAGUARIBE, ZUENIR VENTURA, JOANA VENTURA

Fotografia: FLÁVIO ZANGRANDI

Montagem: JOANA VENTURA, IZABEL JAGUARIBE

Duração: 83 minutos

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