Críticas


CRAZY HORSE

De: FREDERICK WISEMAN
28.10.2013
Por Carlos Alberto Mattos
Será que desta vez Wiseman comprou gata por lebre?

Frederick Wiseman tornou-se um mestre por observar o cotidiano de várias instituições americanas e, com isso, abrir janelas para o funcionamento da sociedade. Assim foi com escolas, delegacias, manicômio, forum judiciário, jardim zoológico, indústria da moda, academia de ginástica etc. Sua estratégia de não intervenção, supostamente neutra, catalisa toda a nossa atenção para os mecanismos e relações humanas observados, gerando uma impressão de testemunho direto. Vez por outra, Wiseman desloca seu olho – e sobretudo seus ouvidos, já que ele costuma captar o som de seus filmes – para Paris. Crazy Horse é o terceiro tomo de um trilogia parisiense que inclui La Comédie Française (1996) e La Danse (2009, sobre o Balé da Ópera de Paris).



Não conheço o primeiro, mas La Danse e Crazy Horse têm como alvo mais o espetáculo que o funcionamento da instituição. Essa mudança de ótica se intensifica em Crazy Horse, levando a uma das maiores decepções que já tive com um trabalho de Wiseman.



A começar pelo objeto em si. O Crazy Horse, com seus shows de strip tease e insinuações fetichistas e sadomasô, é um dos entretenimentos mais decadentes e ultrapassados que existem na Europa. Atende principalmente a turistas pequeno-burgueses, para quem ver mulheres “chiques” e seminuas dançando entre luzes coloridas ainda é um programa “ousado”. O conceito de mulher-objeto é celebrado em bundas iluminadas, meneios pseudoeróticos e sugestões de animalização dos corpos femininos.



Wiseman parece levar toda aquela vulgaridade a sério, submetendo-nos a longas performances aborrecidas. Quando vai para os bastidores, sucumbe a conversas sem rumo e claramente forjadas para a câmera. Ou então a falsas entrevistas para outros veículos, em que os responsáveis pela casa e o espetáculo se desdobram em autoelogios constrangedores. Tudo bem que o Crazy Horse seja uma “instituição” francesa em certo sentido, mas a falta de uma perspectiva crítica dá a entender que Wiseman estava colado àquela imagem ultrakitsch do erotismo comercial. Ou, quem sabe, comprando gata por lebre. Alguns poucos momentos mais reveladores, como a escolha das fotos dos clientes e das candidatas no teste, estão longe de justificar a escolha desse assunto nem muito menos um enfoque que se confunde com má publicidade.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário