Críticas


LAS ACACIAS

De: PABLO GIORGELLI
Com: GERMÁN DE SILVA, HEBE DUARTE
08.11.2013
Por Marcelo Janot
Simples em termos de estrutura narrativa e complexo na maneira de lidar com sua matéria-prima humana

Pouca coisa é explicitada em “Las Acacias”, obra de estreia do diretor argentino Pablo Giorgelli. Sem obviedades, ele fez um filme ao mesmo tempo simples em termos de estrutura narrativa e complexo na maneira de lidar com sua principal matéria-prima: o aspecto humano dos dois protagonistas.

Em menos de 90 minutos, acompanhamos um dia de trabalho de Rubén (Germán de Silva, excelente), um caminhoneiro encarregado de transportar toras de madeira do Paraguai para a Argentina. O início enfatiza a brutalidade com que as motosserras destroem a natureza, enquanto Rubén parece alheio a tudo isso. Seu semblante duro, de poucas expressões e nenhuma palavra, não se altera quando, a pedido do patrão, ele dá carona para Jacinta (Hebe Duarte, em bela estreia como atriz), uma jovem paraguaia que vai tentar a sorte em Buenos Aires levando consigo seu bebê de 5 meses.

É preciso chegar quase até a metade do filme para que ambos finalmente troquem algumas palavras. Eles estão na estrada, mas não se vê a paisagem. No lugar da música, só se escuta o ronco grave do motor do caminhão. O jogo proposto pelo diretor é o de que o espectador, ao ter sua atenção focada longamente naqueles personagens sem ação, crie seu próprio filme com as poucas pistas que são oferecidas sobre Rubén e Jacinta.

De início, Rubén sequer ajuda Jacinta a subir no caminhão carregando um bebê e pesadas sacolas de viagem. Isso vai mudando sutilmente ao longo da viagem, graças à criança. É ela o elemento capaz de tirar dos ombros dos personagens o peso de um passado simbolizado pela carga madeireira. Mas até a fofice do bebê é explorada de forma comedida pela narrativa, já que em “Las Acacias” é a introspecção que dá as caras. O plano final é a única improvável semelhança que o filme guarda com “Jackie Brown”, mas a comparação entre a personagem de Pam Grier no filme de Tarantino e a de Germán de Silva no filme de Giorgelli não deixa de ter fundamento: até lá, já os conhecemos bem a ponto de imaginarmos o que pensam.

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